UMA CARTEIRA SOBRE UMA CADEIRA DO RESTAURANTE
Oswaldo Romano
Neste domingo, eu e meus filhos, coisa rara de acontecer, nos reunimos em um destacado restaurante. A conversa girou em torno das atividades, dos netos, chegando às sogras, sogros, enfim envolvia toda família.
Estão acostumados, são frequentadores das lanchonetes, sempre elogiando as comidas e levantando elogios deste ou daquele local. Contrariando a todos lembrei a impossibilidade de servirem uma comida feita na hora para tanta gente. Certamente são requentadas, se não reaproveitadas. Meu prato deixou a desejar. Além de demorado a carne do pato estava dura e sem gosto.
— Pai, o senhor não deve estranhar. Sempre é o senhor que paga o pato...
Saindo quase sempre descontente, tomo o cuidado de ver que não tenham esquecido nada, o que acontece com regularidade. Neste domingo, vi que na cadeira da mesa ao lado deixaram, tudo indica caída de uma algibeira, uma carteira! No instinto, apanhei-a mostrando a um dos filhos. Procuramos descobrir seu dono. O garçom desconhecido, não mereceu minha confiança naquele ambiente de tanta gente. Resolvemos abri-la, procurava um documento, um cartão, enfim algo que a identificasse. Tinha inúmeros papeis a maioria sem importância. Noutro compartimento muitas fotos diferentes de crianças, sempre as mesmas, não passavam de três, uma menina e dois meninos. As fotos mostravam os seus crescimentos.
Junto aparece a de um casal, sorridentes, sem dúvida membros da família.
— Disse ao meu filho – não são os pais, são os avós.
— Pai como você sabe que são os avós? Como você chuta... Pai.
— Fossem os pais, teriam muitas fotos juntos e não só uma. Os pais têm seus filhos na carteira e junto à constituição da família. Toda vez que abre a carteira, sente sua responsabilidade pela prole. Essas responsabilidades avolumam-se a tal ponto que ele é cobrado pelas fotos diariamente. Há casos de o Pai chegar ao desespero!
Filho, vamos procurar a gerência e entregar essa carteira.
— Pai. Será que são filhos de pais separados.
— Quem sabe...
— Óóó Pai. Você esta querendo deixar a mãe?
— Desculpe filho. Soltei a língua sem muito pensar.
— Então me diga: Porque são os avós? Fale Pai.
— Veja em seus olhos, exalam o amor, sorriem para o mundo, nada têm que os preocupem.
— Pai... eu falo, são os Pais...
— Não filho, a idade não perdoa. Observe as rugas da avó, pelos brancos no avô. Olhe suas mãos, estão manchadas e enrugadas.
— Pai. Nosso avô, a avó, são bonzinhos também?
— Áh ah ...chega filho, chega. Nada a ver, eu estava só navegando...
Tudo por causa dessa porcaria de carteira...
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