UMA TRISTE HISTÓRIA - Oswaldo Romano


                

UMA TRISTE HISTÓRIA
Oswaldo Romano

            Com o falecimento da mãe aos 56 anos, o pai ficou viúvo por 10 anos. Tempo em que morou com as filhas, Vera hoje com 20 e Nice com 12. Deu estudos a Nice, enquanto Vera cuidava da casa.

            Eram vizinhos há tempos da viúva Neide. Neide era tida pelas irmãs, Vera e Nice, uma mulher pouco simpática, assim vista e criticada também pela falecida mãe. Esse clima era contestado pelo pai que sempre saia em defesa da vizinha, deixando a filha Vera possessa e caminhando para uma prematura depressão. Era  bem mais crítica, sempre saia em defesa da falecida mãe quando esta demonstrava ciúmes e se desentedia com o pai.

            Assim conseguiram manter o pai viúvo, já passados os 10 anos. Mas, sentiam a atração que nutriam, ele continuava os flertes com aquela sirigaita, cada vez  mais frequentes.

            Vera usando suas armas reforçou seus ataques, e tornou-se também uma espevitada sobre a viúva Neide, atacando-a sempre que o assunto vinha à tona.

            Era primavera e a força dos sentimentos amorosos entre os dois viúvos florescia, acompanhando a própria estação. Vera perdia o controle das próprias rédeas e esforçava-se para não perder também o amor do pai.

            Sua luta foi vencida. O pai convidou Neide para vir morar junto. Mesmo apelando à suas forças, Vera e sua irmã Nice já consideravam perdido qualquer esforço para reverter àquela situação.

Mas Neide veio para casa vestida de santa, trazendo o diabo no corpo.

            Desde que chegou, Neide demonstrava vontade para conquistar as filhas do novo companheiro, mas sua índole má estava enraigada desde criança e por mais que desejasse, suas atitudes eram infelizes, provenientes de um crescimento fragilizado no correr dos anos.

            Cheia de comportamento sarcástico, sempre que podia, mostrava-se antipática com suas tiradas de deboche.

            Vera resolveu voltar à luta e botar um freio naquela megera.

            Trocou sua conduta meiga, por constantes ataques, não respeitando nem mesmo o próprio pai.

             Nada adiantou. Azedou de tal modo o relacionamento que vendo-se desprestigiada agora também pelo pai, ameaçou sair da casa:

            — Vou-me embora. Pai vou deixar vocês e esperar o dia em que você vai abrir seus lindos  olhos e descobrir quem ela é. O senhor tem uma bruxa aqui, pai.

            Nesse ponto, Neide não se conteve:

            — É você que fica infernizando seu pai. Vai, vai embora e deixe a gente aqui sossegada. Pegue sua mala, suas coisas e saia daqui.

            —Veja pai, não sei como pode permitir isso. Essa mulher esta botando o diabo na sua cabeça. O senhor não vê? Sou sua filha, criada pela nossa santa mãe... Pai, porque ela nos deixou tão cedo? O senhor está compartilhando de um engodo, muito, muito triste. Nosso amor de família... O carinho da nossa mãe, sua sofrida doença, e seu amor... pai. Cadê, Cadê pai?

            Neide, antes que ela tomasse conta do sentimento paterno, interveio porque sentiu que ela abalava  sua resistência, e disparou:

            — Ande menina. Pegue sua mala. A porta está aberta. Você já me deixou arrependida de vir morar aqui.

Nisso a outra filha, a Nice, com convulsivo  choro abraçando o pai disse:

            — Pai, não deixa ela ir embora não... Ela é minha segunda mãe.

O pai não conseguiu segurar as lágrimas, e enxugando seus tristes olhos com as mangas da camisa, disse:

            — Vera, minha filha. Vai, vai. Logo eu com sua irmãzinha  Nice, iremos encontrá-la e tudo voltará ao normal. Minha palavra, filha. Ficaremos juntos novamente, como antes.  Juro pela saudosa alma da sua mãe.

            Vai...Até breve, filha.

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