Manchete de jornal - Mario Augusto M. Pinto

Manchete de jornal - Mario Augusto M. Pinto

















MANCHETE DE JORNAL

O telefone pessoal do Dr. Carlos, Delegado de Policia, tocou.

-Zeca, atende aí.

Passado algum tempo, pelo interfone Zeca diz que é a Dra. Clarinha, sua colega de faculdade.

Carlos lembrou-se imediatamente dela e disse ao Zeca para passar a ligação.

-E então, Clarinha! Há quanto tempo! Tudo bem? Que é feito de sua vida? E o professor seu pai, como vai?

Clarinha disse que era justamente sobre o professor que queria falar.

Estranho, pensou Carlos, Clarinha sempre foi tão sociável e agora sem rodeios e sem mais nem aquela dá o recado do telefonema...

-Bem, conta o que se passa, falou meio aborrecido

-Ele desapareceu há cinco dias sem deixar qualquer indicação. Simplesmente desapareceu. Quer dizer, me deixou um bilhete dizendo que o advogado dele tinha informações. Fui ao advogado toda esperançosa: o que havia era um testamento que no final ele dizia estar cansado e que ia dar um jeito na vida.

  Estranho é que noutro dia um morador de rua me procurou e me disse que tinha visto o Dr. e que ele  estava meio biruta, que da ponte das Bandeiras falava com o Rio Tietê, que era um rio muito fedido e dizia que ia pro Rio ver o mar. Ele deixou cair um cartão de visitas e o mendigo telefonou pro numero que estava lá. O que é que eu faço?


-Fica fria que eu vou encontrar o professor. Não, não, disse interrompendo os agradecimentos dela - agradeça só quando o  professor estiver ai com Vc. Vou começar já. Telefonarei com notícias. Tchau.

Pelas barbas do profeta! Esta vai ser de lascar!  e Carlos ligou imediatamente para todos os delegados que ele conhecia das cidades perto da Via Dutra e da Ayrton Senna; falou sobre o sumiço do professor e pediu que o ajudassem. Alguns tinham sido alunos e trabalhado com ele no IML.

Os delegados foram telefonando de volta e lá pelas duas da tarde o de Rezende avisou que um homem com as características do professor tinha sido visto na Avenida Brasil, indo em direção ao centro do Rio.

Após agradecer, por telefone pediu licença ao D.R. de São Paulo para usar o helicóptero da Policia e ir até o Rio. Disse para o que era e explicou que o D.R.do Rio conhecia o professor de trabalhos anteriores feitos no IML do Rio.

 Tinham ficado amigos e se falavam pelo menos uma vez por mês sobre necropsia ou jogavam conversa fora. Tá bom, disse; vou autorizar. Pega no Marte.  


-As despesas são por minha conta, Carlos avisou ao D.R. (cobraria da Clarinha).

Enquanto ia ao Rio, Carlos pensava como encontrar o professor. Depois de dar muitos tratos a bola resolveu arriscar e ir até a Ponte Rio-Niterói. O professor não falava com o Rio Tietê na Ponte das Bandeiras?  Pelo rádio pediu ao colega da Zona I do Rio que colocasse uma viatura à sua disposição no inicio da ponte. Foi meio difícil conseguir

Quando ali chegou, a viatura estava aguardando com o colega.

-Por onde Você. vai querer começar?

-Vamos subir a ponte bem divagar em direção a Niterói e observar.

Seguiam devagar quando quase no meio da ponte Carlos avistou o professor encostado na amurada da ponte, gritando e gesticulando. Desceu da viatura e correndo começou a chama pelo professor.

-Professor, professor, fui seu aluno, colega da sua filha Clarinha. Preciso falar com o Sr. Espera aí.

Enquanto corria e falava viu o professor subir na amurada e olhar para baixo, para o mar. Carlos conseguiu chegar perto a tempo de ouvir o professor dizer
Será que é doce morrer no mar,
Nas águas verdes do mar....?
e jogou-se.

-Nossa mãe do céu! Como vou contar pra Clarinha?

Manchete no O Globo no dia seguinte:  “Mais um pulou da ponte. Será que gostou?”.

Mario Augusto Machado Pinto - Fev. 2.013.    marioamp@terra.com.br

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