LEITES DERRAMAM MESMO! - Silvia Helena de Ávila

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LEITES DERRAMAM MESMO!
Silvia Helena de Ávila

Gregório é meu irmão, um cara muito sociável, sobra-lhe desenvoltura. Ele é daqueles que se voluntariam pra cantar nas festas, pra ser orador em formaturas,  (desde o ginásio, colegial e faculdade  vem sendo o orador), adora falar em público em quaisquer circunstâncias, aliás, eu acho que ele fala demais. E como dizia minha avó  "um pouco de cerimônia não faz mal a ninguém".  Embora eu ache que isso não se aplica a ele.

Mas sejamos justos, ele é muito simpático mesmo, e bonito! Só que faz uso destes dons pra se dar bem na vida e isso me aborrece. Toda vez que saímos juntos é como se eu fizesse parte de um séquito de admiradores. Ou bajuladores, às vezes eu acho que são bajuladores mesmo. Poxa, todo mundo em volta dele, não sei como ele consegue dar atenção pra todos. E  consegue, vai das meninas, aos mais velhos, até crianças parece que ele cativa. A vovó mesmo é sua fã, apesar de achar que às vezes ele exagera.

Eu canso de avisá-lo: 

— Cuidado! Não é todo mundo que se deixa encantar por suas piadinhas, você sempre termina a conversa com um tapinha nas costas! Tenho que admitir que termina com um baita sorriso também.  Ele nem dá atenção aos meus conselhos, na verdade, sorri com aquele jeito superior pra mim também, parece que ele sabe de algo que não sei, ai que raiva!!

Gregório acorda cedo, corre cinco quilômetros toda manhã, toma banho, café, e vai pra o escritório.  Tem um emprego legal, se veste bem, comprou seu primeiro carro,  na vida dele as coisas parecem sempre dar certo.  Sai bastante à noite, festas, casa de amigos, até com o pessoal do prédio que eu acho meio chato. Minha avó brinca que ele está no auge!!

Certa vez, foi ao Guarujá com amigos para uma balada no Café de la Musique. Eu conheço os amigos, são meus amigos também, só não fui porque... por que mesmo? Ah! Não lembro, senão estaria lá com eles. Enfim, nas boates, mesmo com luzes piscando, som alto, vapor de gelo, Gregório sempre acha logo as meninas mais interessantes e o pior, é logo perseguido por elas. Pois é, parece perseguição mesmo quando elas dão em cima dele.

Só que desta vez foi diferente. Uma dessas meninas perguntou se ele tinha maconha, ele, besta de tudo, respondeu que sim e foram fumar na varanda. Acho que em casa nunca sonharam que ele fumasse, mas era só de vez em quando, disso sou testemunha. Acontece que a moça era uma delegada à paisana e alegou que a quantidade que ele tinha caracterizava tráfico. Resultado? Foi para a delegacia. E os colegas não puderam acompanhá-lo, ou não quiseram, sei lá.

Na delegacia ele pensou que seu jeito brincalhão fosse "colar". Passou o braço nas costas da moça, fez uma piadinha para o investigador, sorriu para o delegado, pegou muito mal. Ai o velho Gregório entra em ação... eu bem que avisei, esse jeito não cai bem. Quanto mais ele tentava quebrar a formalidade do depoimento buscando com sua estratégia de sorrisos e brincadeiras, mais ele se enroscava sem saber.


Foi enquadrado! Passou a noite na cela da delegacia, meus pais foram chamados e o processo longo começou. Bom, uma hora isso tinha que acontecer, não adianta chorar sobre a droga encontrada.

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