A CASA ISOLADA - Sérgio Dalla Vecchia


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A CASA ISOLADA
Sérgio Dalla Vecchia

Era um sobrado em uma praia erma no litoral da Bahia.

Sua aparência não era das mais atraentes, sentia-se a ausência de luz, cor e vida.

Uma dezena de árvores preenchia o cenário com suas copas espraiadas. Elas eram conhecidas como amendoeiras ou árvores das sete copas, que segundo um dito popular seriam agourentas. Diziam até que, quando a sétima copa estivesse formada, ocorreria morte na família. Foi exatamente o que aconteceu com a antiga família que ali residira por anos.

Eis que numa certa sexta feira ao escurecer, chegou uma entusiasmada família para passar o final de semana. O pai, mesmo ciente da fama de casa mal assombrada, alugou-a. Ele tinha preferência para praias isoladas  principalmente pelo baixo aluguel.

A família empolgada pelo fim de semana, logo se alojou.

Caiu a noite, fizeram um lanche e as duas crianças foram dormir.

Antenor e sua mulher dirigiram-se para a varanda, onde puderam sentir a brisa do mar, o som das ondas na arrebentação e o balançar sinistro das arvores das sete copas. Esse momento era um misto de prazer e  ansiedade para o casal.

De repente Antenor sentiu um forte arrepio, olhou para o lado e percebeu que sua esposa dormia. Incomodado com o ocorrido levantou-se e resolveu ir para a sala de estar.

Já na sala sentiu um outro calafrio, agora mais intenso! O seu olhar buscava inconscientemente imagens das pessoas que ali morreram.

Enquanto ordenava seus pensamentos, ele ouviu um ranger de degraus que lembravam alguém descendo a escada. Mas nada, não havia ninguém!

Acordou a esposa para testemunhar o som e ela mesmo sonolenta também o ouviu.

Antenor logo lembrou dos dois filhos no andar de cima!

Não pensou duas vezes, levou a esposa para fora da casa e pediu a ela para aguarda-lo, pois iria buscar os filhos.

Com a coragem de um pai em desespero avançou em direção a escada, e galgou-a até a metade, quando sofreu um forte empurrão rolando-o escada abaixo. 

Antenor atordoado, ainda se recuperando do tombo, entendeu que por aquela escada não conseguiria atingir o andar superior.

Foi correndo para os fundos da casa, onde por sorte havia uma outra escada e sem titubear chegou ao dormitório.  

As crianças dormiam tranquilamente quando ele entrou no quarto, mas logo a porta bateu violentamente, gerando um estrondo.

Agora, com mais essa ocorrência, Antenor entrou em desespero e, sem perder um minuto, carregou os filhos para fora casa, onde a mãe apavoradíssima os aguardava.

Antenor abraçou os três, rezou um pai nosso e todos entraram no carro do jeito que se encontravam.


Pediu desculpas pela roubada e saiu estrada afora dirigindo em disparada, sem que ninguém olhasse para trás.  

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