QUANDO A VI PELA PRIMEIRA VEZ - Oswaldo U. Lopes


QUANDO A VI PELA PRIMEIRA VEZ
Oswaldo U. Lopes

        Quando a vi pela primeira vez ela estava na janela. Bem, para qualquer Sherlock amador já tem aí mais elementos que em qualquer delegacia com escrivão aplicado.

        Não acredita? Pegue o carro e vá passear no Jardim América ou no Alto de Pinheiros. Não, não é para ver como se tira ouro do pântano, como fez a Cia. City. É sim, para ver, ou seria melhor não ver, moças na janela, não as há, nem você enxerga sequer as janelas.

        Se ela estava na janela quando a vi, a janela forçosamente estava na calçada, como, aliás, estava a frente toda da casa. O bairro não era moderno ou o tempo era outro.

        De fato o tempo era outro. As casas inclusive dos melhores bairros tinham a frente na rua e no fundo grandes e bonitos jardins.
        Meu caro Watson o tempo era ao redor de 1940 e a moça tão bela era solteira e não tinha compromisso. Se tivesse não estaria na janela e sim bordando enxoval.

        Era possível ser feliz assim reclusa e fechada? Pelo que contam sim, era possível e não adianta xingar ou reclamar de que ninguém podia ser feliz vivendo assim.

        Felicidade não é coisa que se possa medir, pesar, cheirar ou escorrer. É estado d’alma e estado de alma se insere no tempo e no espaço. Naquele tempo e naquele espaço era possível ser feliz. O medo ficava para fora, a insegurança não era total e a criminalidade baixa, embora existente.

        E foi assim que a vi na janela, à luz da tarde, bonita e fugidia, feliz a seu modo no seu tempo e no seu espaço.

        

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