Peripécias da Vida - Ledice Pereira


Peripécias da Vida
Ledice Pereira

Lúcio, vinte e oito anos, engenheiro civil formado pela Unicamp, trabalhava há quase três  anos na Engetora Construções e Reformas Ltda., em São Paulo.

De uma família de classe média aprendeu com o pai, para ele um Deus, a valorizar o trabalho. Responsável e cumpridor de seus deveres vislumbrava para si um caminho sem pedras.

Fora adotado aos três anos por Laura, assistente social, que trabalhava na Vara da Infância e Juventude da cidade de Valinhos.

Ela se sensibilizou com a história do menino, cuja mãe faleceu no parto da segunda filha, esta logo adotada por uma família de São Paulo.

O pai nunca apareceu e, pelo visto, não havia mais familiares. As crianças foram deixadas ali por vizinhos.

Os casais na fila de adoção optavam por  bebês Johnson,  olhos claros e recém-nascidos,  e Lúcio ia ficando.

 Laura, que já tinha duas meninas, foi se apegando àquele menino gorducho e simpático, de olhar de esmeraldas,  que sorria para ela sempre que a via e convenceu Jorge a adotá-lo.

— Onde comem dois, comem três, não acha?

O processo de adoção foi tranquilo, já que ela trabalhava ali, gostava de crianças e o casal tinha uma vida irrepreensível.

O menino jamais deu motivos para que se arrependessem. Era estudioso, amoroso, alegre e querido por todos. Um príncipe!

Nesse período em que veio trabalhar em São Paulo, sempre que possível, ia visitar os pais e as irmãs.

No feriado da Páscoa, contou para as irmãs que estava de olho numa colega de trabalho e por ser muito tímido, ainda não tinha tido coragem de abordá-la.

As irmãs, curiosas, quiseram saber tudo, como ela era, como se chamava, como a tinha conhecido, quantos anos tinha, enfim. E o estimularam a encorajar-se.

Lúcio criou coragem e convidou Sueli para sair. Ela, que trabalhava no Departamento de Pessoal, estava no segundo ano de Administração de Empresas.

Contou a ele que, depois de repetir alguns anos, havia cursado dois anos de Pedagogia, mas concluiu que não era disso que gostava e prestou vestibular para Administração. Não era muito dos estudos e sentia-se tal qual um peixe fora d’água.

Tinha um relacionamento difícil com a mãe que, por ser um pouco mais velha, não compreendia sua juventude  e só sabia criticá-la. O pai vivia para o trabalho e não se interessava muito por ela.

Saíram algumas vezes, conversavam muito, mas aquele interesse inicial foi diminuindo. Ele percebeu que sentia amizade e carinho por ela. Um pouco de pena, talvez.

Quando ele contou-lhe que tinha sido adotado em Valinhos, mas que adorava os pais e as irmãs, notou sua perplexidade. Ela também fora adotada ainda bebê e só sabia que também era da cidade de Valinhos.
Era mesmo muita coincidência e Lúcio resolveu convidá-la para ir com ele  no próximo fim de semana conhecer seus pais.

Laura já estava aposentada, mas tinha amigos que continuavam trabalhando no mesmo lugar. Assim, consultando os livros de adoção e procurando pelos nomes dos pais adotivos de Sueli, constatou o que já desconfiava: que eles eram irmãos.

A vida às vezes apresenta caminhos tortuosos para, finalmente, unir ou separar pessoas.

Neste caso, uniu dois irmãos que já sentiam uma afeição mútua.

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