LAPSOS DE MEMÓRIA - Carlos Cedano



LAPSOS DE MEMÓRIA
Carlos Cedano

Francisco orientou o cunhado Pedro sobre a forma como deveria proceder com seus bens no caso de sua morte.  Ele se sentia velho, estava beirando os noventa anos e temia morrer subitamente, além disso, sofria de frequentes lapsos de memória. Tinha dois filhos e tencionava favorecer um deles na repartição dos bens. 

Quando Francisco mudou-se pra cidade,  deixou seu cunhado morando na casa com todos os móveis e instalações. Não levou nada para a capital e só pediu para Pedro cuidar bem das coisas.

Francisco escreveu uma carta detalhada pra o cunhado, pessoa com a qual tinha crescido na roça, e sempre confiram um no outro. Pedro recebeu a carta, leu calmamente e relembrou muitas das gírias que usaram na sua juventude. Pedro guardou a carta esperando os acontecimentos e escreveu para Francisco dizendo-lhe que seguiria suas instruções.

As instruções eram para encontrar o testamento que tinha escondido em determinado lugar da biblioteca dentro de um envelope dirigido a ele próprio, Francisco Costa. O envelope estava dentro de um livro grande, não lembrava o nome,   porem tinha muitos mapas. O documento, dizia Francisco, estava devidamente assinado por ele há muitos anos e descrevia como repartir seus bens entre os filhos. No caso de sua morte Pedro deveria chamá-los e abrir o envelope na frente deles.

Mas o destino conspirou contra os desejos de Francisco,  ao receber a noticia da morte súbita de cunhado. Ele e os filhos e viajaram rapidamente para o interior a procura do envelope com o testamento. Fazer valer sua vontade quanto à repartição de seus bens, era a preocupação principal de Francisco. Foi a viúva de Pedro que os recebeu na casa, mas estava desinformada de toda a situação, a única coisa que Pedro pediu pra ela foi  guardar a carta que tinha recebido de Francisco.  A viúva foi procurá-la e a entregou pra ele,  que a leu rapidamente e disse pra a viúva:

         ― É isso! Cadê a biblioteca?

         ― Biblioteca, que Biblioteca? Não existe biblioteca nesta casa! Respondeu a viúva!


E a  carta jamais foi encontrada...!

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