SERINDIPIDADE
Oswaldo
U. Lopes
Pois aqui estamos procurando longe o
que esta perto. Não, não é o Google que está longe e que por sinal não vai ter
serendipidade, mas com sorte serendipe e não vou tirar o prazer de você encontrá-lo. Posso ajudar dizendo que Serendipe é um
antigo nome da ilha do Ceilão que, por sinal, hoje se chama Siri Lanka. Ela já
era conhecida pelos gregos com o nome de Taprobana e agora encontramos, é os
Lusíadas mesmo.
Se alguém falar era uma vez um
menino lobo ou uma menina loba a nossa imaginação irá a uma velocidade super
iônica, que é bem maior que a supersônica, para a Índia a procura de Mogli e
seus primos.
Não precisa, basta procurar Padre
Cícero, no convento do Caraça, sentado no terraço, quando começa a escurecer, e
ficar calado ouvindo suas histórias dos lobos guará e da menina que veio com
eles.
É uma antiga tradição do convento,
altas horas da noite, alimentar os lobos com pedaços de carne crua.
Não há e nunca houve intenção dos
padres de domesticar ou criar os lobos. É uma convivência que se estabeleceu há
muitos anos e que se limita a isso; madrugada alta, os lobos aparecem e pegam a
carne crua deixada no chão e vão-se embora. Alguns mais confiantes chegam a se
aproximar dos padres, mas o contato para por ai.
Numa dessas noites frias de junho
qual não foi a surpresa de Padre Cícero em ver surgir a matilha e no meio,
inconfundível, uma menina que em tudo e por tudo se comportava como um lobo.
Andava sobre mãos e pés e se impulsionava com as pernas como se fossem patas. Grunhia
e arreganhava os dentes para os demais e abocanhava seu pedaço de carne.
Padre Cícero ficou boquiaberto e
começou a investigar. Chegou rápido na viúva Eulália que tinha uma filha
Eugenia de um ano de idade. Eulália, com a morte do marido vítima de acidente
peçonhento, herdara uma carvoaria do tipo das que se encontram naquelas
paragens.
Ela era briosa, recusou toda e
qualquer ajuda e tocava a carvoaria sozinha e ainda cuidava da filha. Diziam
que ela se dava mias com os lobos que com os humanos. Um dia foi encontrada
morta e a filha desaparecida.
Tivera a chamada morte natural, sem
sinais de violência. Eugenia desapareceu e todos acreditavam que fora devorada
pelos lobos.
Agora, passados sete anos ali estava
ela, viva e fazendo parte da alcateia. Padre Cícero tentou em vão, vários tipos
de aproximação com a menina loba, sem resultado. Só ouvia rosnado e
precipitadas fugas.
Durante três anos foi vista perto da
fogueira e dos pedaços de carne. Depois nunca mais. Vida de lobo, morte de
lobo?
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