A VELHA SENHORA - Carlos Cedano

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A VELHA SENHORA
Carlos Cedano

Todos olhavam para o homem que corria desesperadamente para pegar o ônibus em marcha que se distanciava. Com o rosto tomado pela angustia o cara persistia na sua desenfreada corrida.

Olhei para ele com cuidado e a julgar pelo belo terno que vestia com gravata e camisa combinando, pasta de couro preto e sapatos reluzentes, pensei: ” Com certeza é um executivo indo para uma reunião muito importante!”  

Estava indagando-me sobre o motivo de tal reunião quando o coitado tropeça e cai espalhafatosamente no meio da rua, as pessoas correm para acudi-lo e tentam colocá-lo em pé. mas ele tinha  sofrido um infarto fulminante. Perdeu o ônibus e a vida também!

Eis que chega um carro da policia com três detetives que se aproximam do cadáver e perguntam para as pessoas se o morto levava uma pasta preta de couro. Nenhuma resposta, mas como eu tinha observado a sequência dos fatos disse para o detetive mais velho que quando ele caiu a pasta voou para longe e i indiquei com o dedo o lugar, mas agora não havia pasta nenhuma!  

Sou jornalista disse: Podem me dizer de que se trata? O policial chefe disse: foi um assalto a uma joalheria e estávamos atrás de dois ladrões, um já está preso, e este agora está morto, mas não localizamos a pasta.  Onde ela está? O chefe continuou indagando na esperança de que algum dos presentes desse uma pista, mas ninguém falou e ninguém sabia de nada, e logo se dispersaram sob o olhar atento e frustrado dos policiais.

Uma velha senhora sentada no banco do ponto de ônibus se levanta, calmamente vem até onde estávamos, tira debaixo de seu casaco uma pasta preta e pergunta para os policiais:

— É isto que os senhores estão procurando?  Estive o tempo todo sentada no ponto ônibus e o tempo todo fui ignorada por vocês.

— Achei que... — ia dizer o chefe titubeante — mas a velha senhora o interrompeu:

— Achou, meu senhor, que interrogar uma idosa seria uma perda de tempo? Que os velhos somos incapazes e não confiáveis né?

— Não, não é isso...

— Para vocês, os idosos somos transparentes, não nos enxergam. -  e dizendo isso entregou a pasta, deu meia volta e foi embora deixando os policiais com cara de tacho!

Tinha anotado tudo minuciosamente e até tirei fotos da velha senhora, amanhã a noticia aparecera no meu jornal como matéria de primeira página, será uma noticia e tanto justamente amanhã, o Dia do Idoso!


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