PRA ONDE ME LEVARIA AQUELA ESTRADA? - Ledice Pereira



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PRA ONDE ME LEVARIA AQUELA ESTRADA?
Ledice Pereira

Eu precisava ficar só. Havia dias que buscava o isolamento. Mas quem diz que eu conseguia. Os colegas de escritório, os amigos, os primos, todos queriam saber o que estava acontecendo.

Tentei deixar claro que estava tudo bem, mas eles exigiam uma explicação, uma razão.

Se nem mesmo eu sabia...

Só sentia necessidade de fugir do burburinho da cidade grande. Não ver ninguém, não falar com ninguém, nem por telefone ou por rede social, enfim.

Assim que consegui me desvencilhar de todos, aproveitando um instante de distração, dirigi-me à garagem, peguei meu carro, dei marcha à ré e parti sem destino. Ou melhor, parti para o meu destino.

Só pensava em pegar a primeira estrada que me levasse àquela praia deserta.

Não queria ouvir nem o som do radio. Desliguei-o.

Enfim, só!

Comigo mesmo, com meus pensamentos tendo à frente apenas a longa e deserta estrada.

Há quanto tempo não desfrutava de um momento tão meu!

Pude sentir minha respiração e até as batidas compassadas (ou descompassadas) do meu coração, que apenas se misturavam ao tic tac do meu relógio de pulso.

Após aproximadamente cinco horas, avistei os primeiros sinais daquela praia virgem, cheia de pedregulhos, objeto de minhas saudosas lembranças de infância.

Estava igual. Grossas lágrimas começaram a escorrer inundando meu rosto.

Não fiz nada para impedi-las.

Fiquei ali horas. Nem percebi a escuridão que a noite trouxera.

Tive ímpetos de me deitar ali mesmo, naquela areia grossa e deixar-me ficar.

A razão falou mais alto.

Saí dali, alma lavada, em direção ao bar do Chico, onde tantas vezes meu pai me levara a almoçar.

O Chico, assim como meu pai, já havia passado para outro plano. O local, entretanto, permanecia igual.

Comi um peixe assado envolto numa camada grossa de barro, que o dono apregoava como sendo o melhor da região.

Confesso que reminiscências da infância me transportavam para um sabor muito melhor, mas, faminto, o devorei com tudo que o acompanhava.

Já tarde, procurei por uma pousada onde pudesse descansar.

Estava exausto!

As emoções, o cansaço, a nostalgia me embalaram num sono dos justos.

Acordei quando o sol já ia alto e os passarinhos insistiam em travar uma batalha de sons.

Banho tomado, tomei meu pingado com pão e manteiga, o suficiente para sair desbravando o local e descobrindo outros paraísos.

Sentia-me melhor!

A natureza e as lembranças, que o lugar me trazia, fizeram-me bem.

Realizaram em mim uma verdadeira catarse.


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