Aqui quem manda é ela!
Fernando
Braga
Dona Judith tivera seis filhas e um
filho. Logo após o nascimento de seu último filho, perdeu o marido em um acidente. Mulher de fibra,
criou os filhos com dificuldade. Para tanto tinha de exercer o papel de mãe e
também de pai. Tornou-se então uma mulher firme, exigente, decidida, obstinada,
desenvolvendo em casa um verdadeiro matriarcado. Quem mandava era ela, e os
filhos, mesmo após adultos, obedeciam-na cegamente. Isto desenvolveu nas duas
filhas mais velhas, as mesmas características da mãe matriarca, deixando seus
maridos submissos e dependentes de suas vontades.
Todos sabem que isto pode acontecer!
Uma delas, a Maria Helena casou-se com
um médico e tiveram duas filhas. Lucrécio, este médico, era um sujeito muito
bacana, um tanto agitado, e acabou se sujeitando às vontades e determinações de
sua mui querida esposa. Dificilmente saia
com amigos, colegas, e, apenas quando ela estava disposta a deixa-lo participar
de alguma atividade social.
Certa ocasião, ela soube por terceiros,
fofoqueiros, que seu marido andava de namorico com uma enfermeira do hospital
em que trabalhava. Colocou-o contra a parede, mas ele negou tão veementemente, que
ela ficou com suas dúvidas. Tinha medo
de perdê-lo, pois dele vinha o sustento da casa. Com controle absoluto, acompanhava
todos os passos do marido. Ela trazia a tradição da família de ser muito
católica, mas tornou-se piegas, beata, indo diariamente à missa e comungando.
Frequentemente ele tinha que acompanhá-la, mesmo sem a mesma disposição
religiosa.
Uma vez, quando Lucrécio contrariou-a, teve
uma dor forte no peito, ficou gemendo, gritando fortemente, sendo levada às
pressas ao hospital. Dizia ser seu coração, que estava tendo um enfarte. No
pronto socorro foi examinada pelo clínico e pelo cardiologista, que após analisarem
todos os exames, viram que estavam completamente normais, incluindo o ECG. Chamaram
o marido e disseram que aquilo era provavelmente um piripaque. Ele era tão submisso que não acreditou e
passou a tratar sua mulherzinha como um cardiopata, nunca mais contrariando-a. Sua
filha mais velha, era também matriarca e aguentar as duas ao mesmo tempo,
tornou-se sua sina.
Qualquer reunião que ele fosse sem ela,
tinha que telefonar assim que chegasse, durante e quando ia se retirar, procurando
demorar o mínimo possível, voltar logo para casa.
Ele
fez sessenta, setenta e chegou aos 80 anos e tudo do mesmo jeito.
Um
dia foi almoçar com três colegas, amigos de infância e durante o papo,
entusiasmou-se quando lhe fizeram um convite para viajarem juntos para o
interior, cidade natal e passarem três dias no sítio de um deles. Dependia
apenas do beneplácito de Maria Helena, que em princípio, concordou.
Ele, entusiasmado, confirmou a viagem com os
amigos e a data foi marcada.
Uns dias antes da data da partida, Maria
Helena pediu que assinasse documento referente à viagem ridícula que ele
pretendia fazer com um grupo de idosos.
Lucrécio
assinou o documento, mas... um dia antes, telefonou ao amigo que coordenava a
viagem e disse:
—Você sabe né, que minha mulher é uma
cardiopata antiga?
— Minhas filhas me telefonaram e acharam
um verdadeiro absurdo, uma injustiça, eu viajar e deixar a mãezinha sozinha. A
pessoa que eu tinha combinado de ficar com ela, mancou.
— Assim sendo, meus queridos amigos,
desta vez, tenho que mancar com vocês. Vamos combinar outra, mais para o
futuro. Abraços.
Sem comentários!
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