A GOTA D’ÁGUA IRRELEVANTE
Oswaldo U. Lopes
Lá vinha ela escorregando pela folha
larga e verde, havia outras, mas ela se achava muito especial. Sem mim, o rio
seca, ela pensou enquanto com certa soberba olhava outras gotas d’água que
escorregavam também.
Quem foi mesmo que disse que o rio é
imóvel? Parmênides ou Heráclito? E olha ela esbanjando sabedoria, como é que
uma simples gota d’água sabia que o rio pode ser considerado imóvel, porque o
movimento é ilusório ou nunca o mesmo porque suas águas estão em movimento
constante como argumentava Heráclito:
“Não
se pode entrar duas vezes no mesmo rio”
Lembrou até daquele menino, aluno de
Agronomia que sentado na margem falava meio italianado:
“A
água vai para onde ela quer e não para onde você quer”, refletindo a ideia
de que você não pode dirigir o fluxo de água por sua vontade, porque ela não
tem vontades e segue mesmo é as leis da física.
E a nossa gota d’água onde anda?
Soberba e altaneira acaba de descobrir que também não vai para onde quer, mas
para onde as leis da matéria a levarem. Bem que tentou se segurar na borda da
folha, mas só deu tempo de gritar socorro e cair no fundo de uma linda rosa.
Oba! Um lugar digno de mim!
Exclamou. Só que outras gotas foram
chegando e a rosa se encheu d’água e transbordou.
A gota caiu no rio e enquanto
navegava pensou:
─ Heráclito tinha razão o rio nunca
é o mesmo. Não sou irrelevante! Sem mim o rio não anda! Bem, é verdade que sem
mim inclui milhares de outras gotas d’água, mas a minha parte é só minha.
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