ESPÍRITO
DE NATAL
Ledice
Pereira
Estava só. A garrafa de whisky, quase vazia, jazia tombada sobre a mesa.
Tentou levantar-se e caiu pesadamente.
Não conseguia dominar o próprio corpo. Nem os pensamentos.
─ Veja no que você se tornou, seu imbecil – dizia
para si mesmo – num velho decrépito e só!
O estômago roncava fazendo-o lembrar-se que não havia comido nada o dia
todo.
O relógio marcava 20 h. A sala escura recebia uma réstia da luz de fora.
Custou a se situar no espaço e no tempo.
Com dificuldade, dirigiu-se à cozinha, tentando descobrir na geladeira
quase vazia, algo que pudesse amenizar a fome que sentia.
As pancadas na porta trouxeram-no à realidade: era véspera de Natal.
Não estava esperando ninguém, quem seria àquela hora?
Ao abrir a porta, surpreendeu-se.
Sua filha, com quem cortara relações há mais de dez anos, estava ali,
sorridente, cheia de pacotes.
─ Feliz Natal, meu pai! Trouxe tudo para cearmos juntos e esquecermos de
vez nossas desavenças. Aceita meu pedido de desculpas?
Deixou-se abraçar por ela, correspondendo emocionado. Teve que admitir para si mesmo, que sentia
muita falta da única filha.
Ficaram assim abraçados por longo tempo, ambos arrebatados pelo
verdadeiro espírito de Natal.
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