A
ANTE VÉSPERA
SÉRGIO DALLA VECCHIA
Chovia forte! Era o dia vinte
e três de dezembro dos anos setenta.
Sobre a Ponte João Dias na
cidade de São Paulo, a menina de cabelos escorridos, vestido roto, andar
vagaroso, encharcada até a alma pela chuva fria, caminhava com olhar distante e
totalmente apática à situação.
O motivo para continuar era
chegar ao barraco onde vivia com quatro irmãos menores e uma mãe sofrida pela
vida e que contava os centavos para manter as crianças.
Ela retornava do largo de
Santo Amaro, onde fora vender dropes naquela época de Natal, onde as ruas ficam
lotadas de gente. Já havia vendido mais da metade da caixa e as vendas iam bem,
até que do nada surgiu um grupo de trombadinhas e levou tudo o que tinha. Sobraram
apenas a expressões de surpresa e indignação!
La ia ela, desconsolada da
vida, pensava no que dizer à sua pobre mãe. O medo do castigo, a vergonha do
fracasso e a fome que iria passar, faziam com que seu olhar se tornasse cada
vez mais distante. Dessa ausência temporária aconteceu o inesperado, a travessia
da rua sem atenção e o inevitável atropelamento!
O corpo inerte sobre o
asfalto, o sangue escorrendo pela sarjeta, os olhares assustados das pessoas
formaram o retrato mais puro da pobreza: sofrimento, fome e medo!
Sua alma ia de encontro as
gotas da chuva que ao toca-las se transformavam em pequenas luzes que
iluminaram toda a sua ascensão!
Finalmente,
do céu, o mundo justo a recebeu com o maior dos presentes de Natal: A PAZ!
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