A MUDANÇA DA CACHOEIRA - Sérgio Dalla Vecchia




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A MUDANÇA DA CACHOEIRA
Sérgio Dalla Vecchia

O que aconteceria se uma cachoeira mudasse de lugar?

O rio caudaloso seguiria seu curso serpenteando pela floresta tropical,  buscando a melhor curva de nível junto com a companheira  gravidade. Forte, implacável transporia qualquer acidente geográfico, que obstruísse o escoamento do néctar da vida.

Assim rodaria tranquilamente, até que o leito se alterasse, da areia macia para laje rochosa, com inúmeras pontas de pedras rasgando o homogêneo caudal, ferindo seriamente a gravidade. Que espumando  raiva, pipocaria todo o escoamento corredeira abaixo.

A turbulência aumentaria a cada centímetro do declive, o rio pareceria uma manada de gnus desembestada pelas savanas africanas, em busca da água da sobrevivência.

Saltos, rodopios e tombos não impediriam a corrida desvairada rumo à vida.  
De repente o abismo, a queda livre garoaria o ar e as águas revoltas transformar-se-iam em um lindo véu de noiva para se casarem naquele altar natural florido, alegrado pelo arco-íris, com o mais apetecido dos noivos, o Oxigênio.

Após uma queda de dezenas de metros, o chão, algumas pedras e logo os recém casados seguem em lua de mel, prosseguindo calmamente à jusante na dinâmica do seu destino.

O homem também na busca da perpetuação da espécie, usaria artifícios à revelia da mãe natureza, infelizmente desmontaria o lindo altar natural, mudando-o para o vertedouro de uma barragem próxima.

Os casamentos continuariam descontínuos, dosados pelas mãos do homem, abrindo ou fechando as comportas da barragem.

O glamour não seria o mesmo.

O arco-íris, antes assíduo, exuberante agora pouco surgiria e quando brotasse, nas pontas da sua íris desbotada, não existiria mais o encanto do pote de ouro.

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