Um estranho lugar - Suzana da Cunha Lima

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Um estranho lugar
Suzana da Cunha Lima

O ônibus me deixou muito longe do meu destino e não passaria outro tão cedo. Tive que andar naquela rua comprida e deserta. O entardecer vinha lento e frio fustigando-me a cada passo.

As folhas estavam quietas, as árvores imóveis, enquanto  o ar gelado entrava pelas minhas entranhas e meus dedos endureciam. Tudo estranhamente silencioso, como se o tempo tivesse também congelado junto àquela natureza parada e sinistra.
Finalmente avistei uma tabuleta mostrando a direção da Pousada onde eu deveria ficar. Atravessei uma pequena ponte de madeira e vi-me diante de uma construção antiga, desgastada pelas intempéries, feita de pedras irregulares.  Eu devia dormir lá naquela noite, pois fizeram-me uma oferta de emprego, que era tudo que eu precisava, desesperadamente, naquele momento. Fui atendida por uma velha pouco amistosa e monossilábica.  Levou-me ao quarto, bem modesto, e mostrou-me um banheiro minúsculo no fim do corredor.  Não vi outros quartos, nem nada parecido com cozinha.  Ainda bem que eu havia comido alguma coisa antes de sair.
Dormi muito apreensiva, de roupa mesmo, nem desfiz a pequena maleta. A noite toda eu ouvia vozes, barulhos esquisitos e alguns gritos.  Não tive coragem de sair do quarto para perguntar. Pouco dormi de tão apavorada.   Logo cedo me arrumei, peguei a maleta e procurei a recepção.  Quem estava lá era um senhor também soturno e de poucas palavras.  Leu o papel que lhe entreguei onde estava anotada a pessoa que devia me empregar. Ele olhou atentamente para o papel e para mim.
- Seu Haroldo chega às 10.  Convinha a senhora tomar seu café da manhã na padaria do João, são duas quadras daqui.
Eu não tinha reparado em nenhum comércio ali perto, no dia anterior, pois o lugar estava coberto de uma névoa pesada, fantasmagórica.  Mas antes de ir, resolvi perguntar a razão daqueles barulhos noturnos.
- Ora, aqui é o lugar onde os atores ensaiam peças que vão ser levadas no teatro da vila. Fazem isso de noite porque trabalham de dia. A senhora não foi contratada para ajudar na produção?


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