Bendix e o Zumbi
José
Vicente J. de Camargo
Desde
o Genesis, o homem se confronta com as forças do Bem e do Mal e suas consequências,
como a expulsão do paraíso e o surgimento do pecado. Nos séculos seguintes essa
confrontação prosseguiu entre altos e baixos.
Bendix,
guardião da floresta, dotado de superpoderes concedidos pelo “Espírito do Bem”
contempla de sua caverna no alto da colina, o verde das planícies espreguiçando-se
ao longo do vale do rio caudaloso. Súbito, um rodamoinho nas folhagens, indica
a chegada de alguém. É o anão voador Tirex, vigilante dos ares e ajudante de
Bendix no compromisso do bem zelar. Pousa rápido:
−
Temos de agir logo! O Zumbi e sua tropa, armada da cabeça aos pés, avança pelos
brejos do rio em direção à aldeia do cacique Mungaba. Tudo indica que ele não
vai respeitar o acordo de paz acordado com você e o cacique.
−
Já desconfiava da palavra desse traidor, reponde Bendix. Desde que foi mordido
pela mosca da soberba, enviada pelo “Espírito do Mal”, sua intenção de poder
não para de crescer. Para tal se utiliza de todos os meios, como esse de
capturar inimigos para vender como escravos às nações escravagistas. Temos de prendê-lo
antes que termine com o futuro desde povo. Convoque os condores das montanhas e
os gaviões reais para o ataque aéreo, os gorilas e os leopardos das savanas
para as emboscadas na floresta e avise o cacique para colocar seus guerreiros
em posição de luta se não quiserem terminar seus dias nas masmorras das
fazendas cafeeiras.
− É
pra já! Responde Tirex, abrindo suas assas e levantando voo.
Bendix
se concentra procurando sinais do “Espírito do Bem”, se sua decisão está correta. Então vislumbra,
no seu poder de visão, a agonia dos navios negreiros, a humilhação dos mercados
e das senzalas, a agonia das chicotadas, dos grilhões torturantes. Acima de
tudo a dor da saudade da pátria longínqua: “Ao ataque!”, conclui, emitindo um
assobio estridente convocando as abelhas de ferrões soníferos para acompanhá-lo.
Com
esse exército, movido pela força da justiça e na estratégia planejada, Zumbi recua
de suas intenções destruidoras, sendo alertado de que nova quebra do acordo de
paz, será sua sentença de morte.
Bendix suspira aliviado por ter
conseguido frear mais esta investida do “Mal”. Só lamenta os milhões de
desafortunados levados pelos navios negreiros em outras regiões. Mas seu
sofrimento minimiza, quando vislumbra que os descendentes desses serão
absorvidos pala nova terra como filhos bem-aventurados e contribuirão com seu
sangue para a miscigenação da cultura e dos costumes para alegria geral de todos
que habitam a Pátria-Mãe...
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