MODELO e a MUSA
Oswaldo
Romano
Quando veio para São Paulo, Otávio
tinha somente 22 anos. O entusiasmo que se carrega nessa idade, a força da
juventude, o desejo de bater asas entre suas ruas, fê-lo imaginar, seria um
potente vencedor.
Não demorou, num inesperado dia, matutando
como dar início de vida na cidade grande, viu ser verdadeira a motivação de que
quem espera sempre alcança.
Sua boa aparência física foi a largada
para essa inesperada oportunidade. Graças a um olheiro, caçador de modelos, foi
checado por uma linda jovem. Precaveu-se não estar caindo numa arataca. Por que
tanto? Não se conteve e questionou a moça, abrindo o jogo da sua desconfiança.
— Você tem razão, disse ela. Mas quem
caiu antes no conto, fui eu. Agora quero estar convicta de que o modelo que
procuramos realmente exista. Você foi indicado e sondado. Para que não tenha
duvida do meu propósito, vou lhe dar o endereço de quem lhe procura. Veja o
local e apresente-se dentro de 24 horas. Não garanto nada depois. A gente se
vê.
Otávio via a jovem se afastar, não acreditava
tê-la deixado ir. Era muito bonita! Emanava vida, delicada simpatia, leveza,
beleza. E a pele, então! Lembrava pêssego. Não sentiu perfume... também não
precisava!
Jamais pensou acontecer coisa parecida.
Apresentou-se, era um atelier de moda
masculina. Foi aprovado logo no primeiro teste. Olivier, o proprietário,
contendo elogios, acionou um botão e ficou esperando a entrada de alguém na
sala. Entra com trejeitos, supõe-se o costureiro. Mediu o Otávio com ar de
aprovação.
— Podemos ensinar-lhe modos de se
apresentar.
Retirou-se.
Entra uma moça, pelo espelho Otávio a reconheceu. Era ela! Respirou enquanto se
refazia.
—
Lorena, agora se apresentou.
Seja bem-vindo! - disse. Seguiu-se uma
conversa animada. Olhavam-se olho no
olho.
Sua desilusão veio ao cair da tarde.
Chegou um moço, elegantemente trajado num marrom castanho, cumprimentou e
beijou a face de Olivier. Abraçou e deu demorado beijo na Lorena. Tinha um
sotaque italiano e como tal mexia-se.
Otávio portou-se bem nessa casa, mas o
amor enrustido que guardava da Lorena estava à beira de loucuras. O
transtornava. Na troca de olhares, tinha certeza de que ela sentia o mesmo.
Seu pai violento, mas respeitoso,
impunha-lhe medo. Muito cedo para Otávio envolver-se numa aventura que não
enxergava o fim. Já com outro contrato a vista, pediu demissão. Enveredou para
importantes desfiles.
Num
sarau, promovido pela destacada grife Hermenegildo Zena, desfilava quando no
limite da passarela, único local que permitia lançar um olhar nos assistentes,
vê como a luz de uma estrela, destacando-se ela, a Lorena.
Não dominando seu impulso, pulou na
multidão e para abraça-la não precisou abrir muito espaço. Ela fez isso por
ele.
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