Amor Impossível
José
Vicente J. de Camargo
Seu
pensamento na volta para casa, após um dia de trabalho, era para ele. Será que
comeu? Tomou sol? Nem o turbilhão de pessoas com quem cruzava pelo caminho,
desviavam seu foco dele. Seu desejo era chegar logo em casa e ver se tudo estava
em ordem com ele. Ao abrir a porta de entrada, suas preocupações se
desvaneciam, seu coração amolecia, ao vê-lo esfacelado no sofá com aqueles
olhos grandes mirando-a.
Sim,
sabia que devotava um amor excessivo ao Tom, seu gato de estimação. Mas nada
podia fazer para diminuir esse sentimento. O encontrara recém-nascido,
abandonado no jardim do prédio. O adotara e, com carinho foi criando-o e se
afeiçoando cada vez mais a ele. Para ela, seu pelo macio, manchado de pintas
brancas, absorvia as energias negativas que possuía. Onde ia pela casa, ele a
acompanhava, sobretudo onde houvesse barulho de água escorrendo. No banheiro,
na cozinha, no tanque de lavar, provocando risos e afagos pelas situações cômicas
que criava.
Só
Geraldo, seu marido, não aprovava esse carinho excessivo. Ele preferia ter um
cachorro, mas desistiu da ideia quando o informaram que esses animais juntos, num
apartamento, era briga na certa. Ele então cedeu a favor do felino, para o bem
da paz conjugal. Atribuía esse apego da mulher pelo bichinho, ao fato dela não
poder engravidar e ver nele a ausência do filho. Outro problema surgia nas
viagens de férias. Com quem deixar o Tom? Parentes e vizinhos se recusavam ou
por ter crianças alérgicas ou por já ter outros animais de estimação. A
alternativa era reservar uma pousada que aceitasse animais, mediante pagamento
de taxa extra e leva-lo a tira colo em todos os passeios.
Mas
o convívio com o rival, ia chateando Geraldo. Até que o impasse definitivo veio
com a decisão dela de acomodar o bichano para dormir na cama deles:
− Nada
disso! Dois é bom, três é demais, disse Geraldo. Cada um no seu canto, não
quero pulga pra me coçar. Senão qualquer dia desses, deixo as portas da sala e
do elevador abertas para que ele dê umas voltinhas sem retorno...
−
Se ele vai, eu vou também, responde ela. Amor fiel só se separa com a morte!
−
Fiel não! Retruca ele. Isso tá mais é pra impossível. Se você preferir o
querido gatinho, eu apelo para a divisão igualitária do matrimonio, e vou atrás
de uma gatinha, bem carinhosa, só que de duas patinhas, para me absorver as energias
voluptuosas.
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