Amor Perfeito - José Vicente J. de Camargo


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Amor Perfeito
José Vicente J. de Camargo

Toda vez que ela penetrava nos meus sonhos, me vinha a ideia de tentar localizá-la. Já tentara anteriormente através das redes sociais, mas em vão. Procurei contatar os amigos comuns registrados numa antiga agenda de endereços, mas constatei que os mesmos se esfacelaram tanto quanto o uso da agenda. Só restaram-me então, as lembranças dos momentos vividos, a vontade de tê-la a minha frente para terminar o beijo que teve início, mas não fim. As vezes pensava o que diria, se dobrando a esquina, me deparasse com ela. Mas a procura pelas palavras certas, desanimava meu pensamento diante da realidade inexistente. A alternativa foi continuar desejando suas aparições efêmeras nos meus sonhos nebulosos, saciando-me, em gotas, a sede da paixão ardente.

Confesso que nunca dei muito valor ao poder da tecnologia digital e da força dos cupidos amordaçados. Mas, um belo dia, capitulei-me totalmente. Dei de cara com um aviso de “Procura-se” e um código para resposta, emoldurado por uma flor de amor perfeito contendo a seguinte mensagem:

Se você for aquele que me rodopiou em seus braços e me jurou amor eterno à beira do lago Titicaca, tendo ao fundo as Ilhas do Sol e da Lua, responda esta  mensagem,  fornecendo meu nome completo, data e detalhes desse encontro. Se correto, informarei, no e-mail indicado, meu paradeiro para contato”.

Tremi. Sentei, segurei forte o celular para não cair – tesouro das mil e uma noites – reli, solucei, respondi o desfecho do encontro, há tempo me sufocando o peito, e me agarrei com todas as forças na esperança da resposta que me salvaria da depressão anunciada.

Nosso reencontro se deu dias depois e, coincidentemente, numa cafeteria, que escolhemos de comum acordo, não longe de nossas casas – tão próximos fisicamente, mas infinitamente distantes para um eventual esbarrão ao acaso. Um buquê de amor perfeito, que lhe entreguei entre abraços e lágrimas, enfeitava nossa mesa de mãos entrelaçadas e olhares apaixonados, como se o tempo tivesse parado naquele encontro paradisíaco do lago Titicaca e apagado com ele, nossas faces envelhecidas.

Mas, no coração em paz, sabíamos que a felicidade do amor reencontrado, era muito superior aos sinais deixados pelo tempo. Nossa resposta a ele e ao destino, na certeza da aliança duradoura, não poderia ser outra:

“Peripécias da vida”...

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