CAMINHOS DO AMOR
Carlos Cedano
A historia nos conta que em meados do século dezenove ainda
persistia o costume de beliscar o antebraço das meninas, chamadas de pombas,
quando os pretendentes, os chamados gaviões, queriam chamar a atenção de alguma
delas. Esse jeito era o chamado “mimo de Portugal”.
Não era fácil namorar as meninas nesse tempo; elas só saiam
acompanhadas por pais, irmãos ou parentes, mas o amor sempre da um jeito e os “mimos
de Portugal” era uma maneira de contornar essa barreira social. Os lugares desses
“namoros” geralmente ocorriam nos passeios após as missas dominicais ou nas frequentes
procissões da época.
Hoje
se sabe que essa forma de namoro também originou uma nova forma de aposta.
Fazia-se uma bolsa entre vários gaviões, três ou quatro no máximo e cada um
colocava uma quantidade de dinheiro previamente combinada, quem conseguisse o
maior número de mimos de “pomba” levaria a bolsa. As competições seriam durante
as procissões onde o tumulto favorecia a ocasião para os contatos.
Quatro amigos, Felipe, José, Pedro e João constituíam
o grupo pioneiro neste tipo de “namoro”. Iniciou-se a competição na procissão
de São Judas Tadeu patrono da cidade. Os quatro rapazes sortearam para saber
quem iniciaria a contenda e Pedro foi o indicado; infiltraram-se na procissão. O
tempo previsto era de vinte minutos controlado pelos outros gaviões que também decidiam
sobre a validade do mimo, sem discussão. O mimo seria validado se a menina
manifestasse, por um gesto ou leve sorriso que a mensagem tinha sido bem
recebida. No final foi José quem ganhou com nove sinais favoráveis contra seis
de Pedro e João e apenas dois de Felipe.
A brincadeira pegou e se espalhou rápido entre os
jovens sendo motivo de entusiasmados comentários nas escolas de rapazes e meninas.
Criaram-se muitos grupos, as mangas das meninas encurtaram-se e as queixas dos
familiares aumentaram fortemente!
O pároco da Catedral, também conhecido como padre
Carranca, decidiu dar um jeito na situação e acabar com essa brincadeira.
Disciplinador severo e moralista, rígido e de rosto sempre sisudo, não estava disposto
a permitir comportamentos devassos e pecaminosos. A primeira coisa que fez foi
declarar o “mimo de Portugal” como pecado grave sujeito a severa penitência, e
quem omitisse o pecado numa confissão receberia uma admoestação pública, já e
em caso de reincidência haveria até perigo de excomunhão!
Santo remédio! Em compasso com a moral da época, as
brincadeiras cessaram quase que imediatamente, agora os jovens teriam que
inventar novas formas de mostrar seu amor pelas donzelas, com flores por
exemplo. A batalha estava perdida, mas não a guerra! A vida sempre encontra um
jeito para mudar, demora, mas muda.
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