DUAS CRIANÇAS - CONTO DE NATAL


DUAS CRIANÇAS
CONTO DE NATAL




Ele nasceu há mais de dois mil anos em Belém, uma cidadezinha da Palestina e foi colocado, recém-nascido, numa manjedoura.  Ainda bebê fugiu de sua terra para escapar dos soldados do Rei Herodes. Quando o perigo acabou, voltou para sua terra onde cresceu, pobre e analfabeto. Morreu aos trinta e três anos, nas mãos dos carrascos de seu próprio povo.

Ele era Jesus de Nazaré, um Rei cujo reino não é desta terra, embora sua palavra continue viva e eterna e até hoje encerra toda a verdade do mundo.

Ele é Aylan Kurdi, uma pequena criança de Korbana, Síria, encontrada morta, coberta de espuma e sal, nas praias de Ali Hoca, em Bodrun, Turquia.  Levada pelas ondas, como um dejeto qualquer, é um símbolo trágico do desespero migratório, que tem sepultado tantas vidas e tantos sonhos.  Também ele, sua família e muitos outros continuam abandonando seu país, esfacelado pela guerra civil e por um perverso fanatismo que não obedece a nenhuma regra ou convenção humana civilizada. Também ele estava fugindo do longo braço dos soldados de sua própria pátria.

 Aylan Kurdi morreu, porém sua voz ressurge no grito e indignação dos povos e, quem sabe, consiga tocar, com sua inocência, os corações dos que possuem poderes para conter o Mal.

Há uma verdadeira e profunda ligação entre estas duas crianças: ambas fugiam da opressão de seus governos totalitários, ambas buscavam um espaço de paz  e  liberdade para viver seus sonhos e cumprir sua missão.  

O mundo caminha entre o Bem e o Mal desde que o primeiro homem pisou neste planeta.  O Mal se impõe pela Violência e o Bem age pela Paz.  Estamos nesta encruzilhada, é o que me vem à mente nesta época em que celebramos o nascimento de Jesus, cada vez mais angustiados e desesperançados diante da extrema crueldade como o Mal se manifesta.

Será que chegou a hora de nós, homens e mulheres do Bem, nos levantarmos contra a barbárie e desembainharmos também nossas espadas?



FIM





Autora: Suzana da Cunha Lima


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