O RELÓGIO CUCO E A CASCA DE NOZ
CONTO
DE NATAL
Cuco... Cuco... Cuco!
Conta
a lenda que, o Cuco, pássaro comum na Floresta Negra, tem a missão de proteção.
Vive nas montanhas no Sudoeste da Alemanha. Do alto dos pinheiros tudo observa.
Muito inteligente, um alegre cantor e amigo dos animais.
Assim sendo, se algum
caçador estiver no encalço de algum animal desavisado, ele entoa um canto de guerra,
alto, muito alto para preveni-los do perigo. Os que ouvem saem em disparada,
logrando a sorte do caçador.
A Bruxa... sim, na
floresta precisa ter uma bruxa. Ela usa plantas e animais para feitiços. Ela
não gostava nada do Cuco, e nem ele dela, porque o pássaro podia enxergar as
malvadezas, atrapalhando seu intento.
Um dia... Ah! Esse dia! A
Bruxa andava em seu encalço há muito tempo. Fez um feitiço e conseguiu prender
o Cuco dentro de um relógio. O feitiço virou contra o feiticeiro. Ele adquiriu
os poderes mágicos do relógio gaiola, e de lá
conseguia avistar toda floresta. No entanto, a floresta silenciou sem o
Cuco e os animais ficaram mais cautelosos.
Ele não deixou por menos. Quando
a malvada Bruxa saia à procura de animais, ele abria a janela do relógio
despertando a floresta alertando-os do perigo, cantando alto o mais que
pudesse:
Cuco...
Cuco... Cuco!
E a Bruxa irritada voltava
de mãos vazias, caminhando cabisbaixa, corcunda com o saco murcho nas costas,
pisando forte, marcando seus passos com um enorme galho seco de árvore em que
se apoiava.
O relógio Cuco... Bons
tempos em que morávamos na casa dos avós maternos.
A única coisa com a qual implicávamos, era o
tal indicador das horas que pulava a nossa frente sem nunca conseguirmos ganhar
dele nas tarefas, muitas coisas ficavam para o irritado depois. A vontade era
de mexer em seus ponteiros, tirar os pêndulos de chumbo, parar o tempo, segurar
a porta para que não cantasse, mas que nada, embora soubéssemos que o mecanismo
de bronze era tipo infinito, não queríamos que nos culpassem de algum entrave.
Um dia descobri.
Vovô Hanke, era exigente
com os horários e outras coisas mais adquiridas da educação germânica. As
refeições, isto o tirava do sério, deveriam ser exatamente no mesmo horário.
Sentava-se à mesa dez minutos antes do meio dia, de costas para o relógio,
aguardava sua precisão e a pontualidade da comida a sua frente. Neste dia, vovó
Hermínia estava um tanto atrapalhada na cozinha, era a típica vovozinha de
avental, gordinha que arrastava chinelas pela casa, esfregava as mãos em
momentos aflição, este é um sinal, então fui ajudá-la.
— Malutchka, (assim me
chamava) - cochichando ao meu ouvido - pega no “schrank”, (típico armário de
canto que ficava na mesma parede do relógio) uma travessa para a carne e, bem
devagar volta o ponteiro dos minutos um pouco atrás.
La fui eu cúmplice da
Omama* a mexer no sagrado relógio que, só ele Opapa* Arthur, só ele puxava os
pêndulos, só ele o fazia parar à noite. Acho que o relógio o conhecia bem. Com
aparência de que ia apenas pegar a vasilha, espichei-me ao máximo, com uma mão
eu o atrasei com a outra. A porta rangeu e, triunfante voltei à cozinha. Tudo à
mesa. Era ela, já sem o avental, quem fazia questão de servir a todos, sendo
ele o primeiro. O Cuco rompe a janela e inicia os doze toques. Minha avó
cabisbaixa me olha e sorri dizendo:
— Bom Apetite!
A última a sentar,
sobrou-me o lugar que todos temiam, à frente dele. O apetite, aumentado pelo
nervoso da peripécia dos ponteiros era tamanho que, na primeira esfaqueada na
carne, que estava à beira do prato, este tombou em meu colo. Não sei o que era pior,
a situação em si, o calor da comida queimando minha perna, ou o Vovô Arthur
olhando sem nada dizer. O silêncio era tanto que dava para ouvir o mastigar.
Ele desatou em riso:
— Nunca imaginei ver isto
na minha vida!
O Cuco acabou seu concerto
e fechou a portinhola.
Às vezes tinha vontade de
lhe dar um tapinha, pois presenciava a tudo e nos delatava ao chegarmos fora do
horário. Até que, tivemos coragem e, ao sair escutávamos se ele roncava, quando
então uma mão encostada na folha de plátano silenciava o seco tic...tac.
Escapamos por pouco. O
pássaro preso na casa amadeirada não teve a mesma sorte. Estava rouco... Na
floresta seu cuquear era manso, leve, uma dança no ar, sem a Bruxa por perto.
Com a chegada do Natal e
fim do ano, ele era o pontuador, o mais vigiado para a abertura dos presentes e
para um Feliz Ano Novo. Este foi o último Natal em que ele tentou me avisar de
alguma coisa.
Na véspera limpávamos a
sala, nosso avô entrou apoiado na bengala, e justo naquele instante o Cuco
cantou, acompanhando o compasso irônico da alegre observação:
— Mas quanta limpeza! Por
um acaso vai chegar um príncipe?
— Não Opapa* - é o Papai
Noel que estamos esperando – e ele ria.
Na verdade estava nos
espreitando para conferir a brincadeira, queria saber qual de nós sairia de
casa no próximo ano. A bacia com água lá estava. Cada uma colocou dentro dela,
meia casca de noz um toco de vela colorida acesa dentro, formando um barquinho.
Se as cascas ficassem juntas ninguém sairia, se uma se afastasse, aquela seria
a que iria se casar.
— Sou eu! – gritei.
E o Cuco neste momento
abriu a janela e, choroso cantou três horas da tarde.
À noite recebemos visita
de um primo, vindo de São Paulo, em um Fusca VW branco, de uns trinta e seis
cavalos aproximadamente. Havia descoberto nosso endereço, pois nosso pai não
permitia namoro entre primos e nos afastou. Ajudou-nos a vestir o pinheiro com
as decorações guardadas dos anos que se passaram.
Um momento mágico em que,
ramos e essências enfeitam a casa e um gato enroscado na janela perscruta
ouvindo árvores que falam baixinho, cantam e dançam ao som do vento de fora.
— Pobre Cuco...
No ano seguinte sai de
casa. O relógio engasgou-se em uma das correntes que se rompeu. Acredito que,
finalmente o Cuco tenha se libertado da belíssima casa de carvalho, cujos
entalhes remetiam-lhe as lembranças da vida dos moradores da Floresta Negra e
da Bruxa.
Quanto ao primo, que não
era príncipe, mas um súdito, seu Fusca não se transformou em um cavalo branco.
Foi me buscar para que eu encontrasse meu verdadeiro príncipe.
E, um dia ao som das
músicas de John Travolta, o príncipe chegou das longínquas terras do leste
europeu. Casamos e vivemos felizes para sempre, perpetuados por princesa e dois
príncipes que continuaram com as tradições.
O Cuco terminou sua
missão.
Já não precisava mais me
proteger.
FIM
Autora: Maria Luiza C. Malina
Desejo
ao meu amigo secreto o melhor Natal que se pode ter!
Com
fartura de abraços da família e dos amigos...
Com
vozes chamando-o pelo nome...
Com
mãos que se estendam para as suas.
Com
olhares que alcancem os seus...
Feliz Natal!
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