FICAR OU CORRER, O BICHO É O MESMO
Jeremias Moreira
Estava
vestido com um terno cinza chumbo com riscas de giz, uma gravata com listras
azuis, verdes e brancas e uma camisa azul claro. Diria que, com elegância.
Elegante demais para estar ali, estirado no chão da sala em meio a uma poça de
sangue. Principalmente, que era uma pessoa totalmente estranha àquela casa.
Então, quem era esse homem e porque
estava na casa de Nestor Borges, na praia da Baleia? Quem o matara e por quê?
Fora assassinado ali ou o trouxeram já morto?
Essas
eram algumas das perguntas que se fazia o inspetor Nepomuceno, da polícia, que
fora designado para o caso.
Foi
Nina quem encontrou o corpo, quando logo cedo foi levar a roupa dos patrões,
lavado por sua mãe. Estranhou a porta da casa aberta. Entrou cautelosa e logo
se deparou com o corpo estendido na sala. Apavorada voltou correndo, chamou
pelo pai, que comunicou à polícia.
Em
seguida o caseiro ligou para o patrão.
Nestor
Borges atendeu o celular já na estrada, a caminho da praia. Ficou lívido com a
notícia. Automaticamente pensou na dívida.
Logo
que chegou foi interrogado por Nepomuceno.
Congelou
quando reconheceu o cadáver. Mas, se recompôs de imediato:
-
Nunca o vi em minha vida!
Porém,
lamentavelmente sabia de quem se tratava.
E, entendeu claramente o macabro recado que enviavam ao desovar o corpo
em sua casa.
O
homem era um argentino. Chamava-se Pablo, achava. Não tinha certeza. Há dois meses o conhecera
numa mesa de carteado, num cassino clandestino. As apostas eram altas. Nestor arriscava
obstinadamente, rodada após rodada. O gringo não estava pra menos. Igualmente,
apostava desatinado. E, jogo após jogo o desespero. Só perdiam. Ao final, a
dívida de cada um alcançava as alturas. Assinaram promissoras e foi
estabelecido o prazo de vinte dias para saldarem.
Pelo
jeito o gringo não pagara. E o recado era claro. Fácil deduzir.
“Meu fim será o mesmo se não pagar! Mas, como vou pagar se estou atolado em dívidas
e totalmente descapitalizado? Em curto prazo é impossível. Preciso de mais
tempo.”
Pensou em abrir o jogo para a polícia. Depois
atinou que lidava com gente poderosa, que tinha cupinchas em todo canto.
Certamente na polícia também.
“O melhor a fazer é sumir por uns
tempos”
Voltou
para São Paulo e prontamente, sem muita explicação, despachou a mulher e os
filhos para a fazenda do sogro, em Mato Grosso, onde deveriam aguardar sua
volta.
À
noite se mandou para os Estados Unidos.
Pela
manhã desembarcou no Aeroporto Internacional de Miami. Enquanto aguardava a
bagagem, em meio à agitação, foi abordado por carregadores que, em espanhol,
ofereciam seus serviços. Optou pelo que se achava mais afastado do grupo. O simpático
porto-riquenho que há uma semana o aguardava, atentamente, com sua foto!
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