Banco
de Esperma
José Vicente J. de
Camargo
Lá estava eu
trancado numa sala aconchegante, musica de fundo, mesinha servida com café,
chá, sucos, bolachas, ao lado uma coleção de revistas masculinas, tudo
contribuindo parar proporcionar ao cliente um ambiente a vontade, relaxado, “em casa” como se diz.
Dar a ele o clima necessário para a importante missão a que se propôs.
Missão? Será que
poderia chamar assim a finalidade da minha presença ali? Ou teria um nome mais
apropriado? Enfim estava me vendendo, entregando meu “eu” ao mercado para quem
pagar levar...
Onde esse “eu” iria
parar? Saberia um dia da verdade de sua origem? Tentaria me encontrar? Como eu
agiria?
Mas, questionamentos
nessa hora já não adiantam mais! A decisão tomei ao aceitar vender meu esperma
e embolsar o dinheiro para a compra do celular de última geração, da moda,
coisa indispensável aos bons olhos da galera. Depois, me disseram, todo mundo
vem fazendo, não dói nada, ao contrário, você ainda dá uma na boa...
O negócio agora era
se inspirar, caprichar na coleta. Quem sabe não vai ser um futuro presidente da
república? Ou um herdeiro de um império industrial? Ou ainda uma nova Michele Bündchen
das passarelas?
Teria meus olhos?
Meu sorriso? Tudo bem, desde que não puxe meu gênio ariano, impulsivo,
mandatório, difícil de lidar segundo os amigos.
Vamos lá, pense na
Glorinha! Nela não! Seria injusto. Melhor nessa peladona da revista, corpão
sarado, apesar do photoshop vê-se que é uma gostosona.
Vai! Mais pouco tá chegando...
E o dinheiro? Vai
dar mesmo pra comprar o i–pad das tantas? E esse dólar que não para de subir? Preciso
mesmo desse troço? O que tenho até que quebra um bom galho...
Puxa, tá feito!
Agora pego a grana
e compro de volta meus espermatozoides, não vou deixá-los órfãos por aí. Dá de
caírem nas mãos de alguma desalmada, pedófilo, ou de algum casal gay, nada
contra, mas não com meu “eu”.
O lugar mais seguro
é em casa mesmo, junto ao dono...
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