A Frágil Fé de Berenice
CONTO
DE NATAL
O
Natal estava chegando e as famílias já se preparavam para a festividade. As
luzes da cidade já piscavam e os pinheiros se acenderam clareando a luz que
somente no Natal se vê.
Na
casa dos Moraes, dona Berenice fazia a costumeira novena e pedia um Natal de
paz e harmonia. Era católica e tinha muita vontade de ver Jesus, mas sabia que
por ser uma simples mortal não poderia estar com Ele simplesmente porque desejava. Haveria de merecê-Lo!
Já
era noite de Natal. Uma luz amarela faiscou diante de Berenice e de dentro do
facho de luz um anjo lhe disse que Jesus a visitaria naquela noite.
—
Esta noite o Senhor Jesus visitará a tua casa!
Dona
Berenice nem acreditava. Mas, vindo de um anjo era para ser verdade. Ficou
exultante. Imediatamente pensou que haveria de preparar a casa para tão ilustre
visita, haveria de preparar uma ceia especial, abrir vinhos raros e oferecer
boas entradas.
De
pronto começou a temperar carnes, cozinhar legumes e assar aves. Separou os
melhores vinhos de sua adega, quando ouviu tocar a campainha:
—
Meu Deus, será que é Jesus? Se for, ainda não estão prontos os assados, e o
jantar ainda não está pronto para recebê-Lo!
Ao
abrir a porta deparou-se com um velho maltrapilho, de corpo arqueado e voz
trêmula, que disse:
— Por
Jesus, tenho muita fome! Há dias não como nada. Sinto que não passarei desta
noite, preciso de um prato de qualquer comida...
Mas, Berenice nem o ouvia, atarantada com tudo que ainda tinha por fazer, e nem mesmo o esperou que terminasse e foi logo dizendo:
—
Agora não posso. Eu realmente estou muito ocupada, de modo que não posso
ajudá-lo agora. Mas volte amanhã que te darei um bom prato. – E fechou a porta
antes que o velho argumentasse em seu favor.
A
mulher afobada voltou aos seus afazeres, agora mais ofegante com muita coisa
ainda por terminar. Abriu dois vinhos para respirar, limpou os cristais,
ordenou a louça inglesa na mesa sobre a toalha de linho que comprou para
ocasiões extremamente especiais. Olhou para o relógio, quando de repente a
campainha tocou, e ela eufórica correu para a porta.
—
Minha Nossa Senhora, será que é Jesus? Se for ainda é muito cedo, e tenho que terminar
a salada, preparar os pães que serão servidos na entrada, e tirar os assados do
forno...
Mas,
quando abre a porta se depara com um homem gordo que pede ajuda:
— Em
nome de Jesus, Nosso Senhor, lhe peço
socorro. Não quero dinheiro nem comida, preciso usar um telefone para chamar
uma ambulância que leve minha mulher para a maternidade. Ela vai parir...
Mas,
Berenice nem ouvia o que homem
dizia, nem esperou que terminasse
a fala, e foi logo dizendo:
—
Me desculpe não poder ajudá-lo. É que estou muito ocupada, e estou tão atrasada
com meus afazeres. Use o telefone público da praça ali em frente. – Disse
apontando a praça diante de sua casa, e fechou a porta. O homem ainda insistiu
tocando a campainha outras vezes, mas ela não voltou para atendê-lo.
Corria
de um lado para outro, uma barata tonta, limpando a prataria, organizando as
flores, dobrando guardanapos. E vez ou outra olhava para o relógio.
Já
passava das dez da noite quando novamente a campainha tocou.
Berenice ficou eufórica:
—
É Ele! - Tirou o avental, ajeitou os cabelos, retocou o batom e botou um
sorriso nos lábios antes de abrir a porta. Quando, decepcionada, deparou-se com
um menino de rua, todo sujo de lama, roupas esfarrapadas, pedindo comida. Ela
ficou furiosa:
—
Mas, o que é isso?! Vocês combinaram de me azucrinar a vida justamente na noite
de hoje? Estou ocupadíssima preparando a casa para uma visita muitíssimo
especial e não posso atender você, garoto. Volte amanhã que haverá muita sobra
de comida.
—
Ah, e saia do meu portão, você está sujando a entrada de minha casa com esses
pés enlameados! - Disse e fechou a porta.
A
mulher abriu as latas de caviar e pediu que a família se sentasse para
esperá-Lo. As horas foram passando depressa e logo as crianças bocejavam.
Januário bocejava. E até Berenice bocejava. Os pequenos já estavam beliscando
uma coisinha aqui e outra ali. Até que os ponteiros marcavam meia noite, e Jesus ainda não tinha vindo. Berenice
autorizou que as crianças jantassem e se recolhessem, mas ela e o esposo
ficariam esperando.
—
É claro que Ele não viria para visitar apenas nossa casa. Está visitando outras
famílias. Deve estar testando nossa paciência. Vamos esperá-Lo.
Horas
mais tarde o casal já tinha devorado o caviar e tomado o vinho, acabado com a
salada, e não havendo mais condições de esperar, sentaram e comeram.
Ela
ficou emburrada e não quis falar no assunto. Apenas resmungava enfurecida. Ele
a chamava de maluca, pois ele mesmo não tinha acreditado que Jesus os
visitaria.
Ela
se enfureceu e gritou que era verdade. Afinal os anjos não mentem.
Ele
retrucou:
—
Não, os anjos não mentem. Mas, se não
mentem por que Jesus não veio? Acho que deve ter sido coisa da sua cabeça,
Berê...
Ela
se sentiu insultada.
Brigaram.
E foram dormir em quartos separados.
A
noite de Natal não estava sendo nada boa! – pensou a mulher.
Berenice
chorou embaixo dos lençóis. Ela não O merecia, senão Ele teria vindo. Tanta fé.
Tanta crença. Tantas orações. E Ele não reconhece. A mulher chorou tanto e por
tanto tempo que adormeceu.
Uma
luz amarela faiscou no sonho de Berenice e de dentro do facho de luz um anjo
lhe disse:
—
Se desejava tanto vê-Lo, por que não recebeu Jesus?
Ela
respondeu que cansou de esperar, já passava das duas da manhã, e Ele ainda não
tinha chegado. Ela estava frustrada, e não acreditava mais no anjo.
E
anjo disse:
—
Mas, Jesus veio sim! Ele esteve aqui várias vezes, mas a senhora não o recebeu.
—
Como assim?!
—
Ele veio como idoso maltrapilho pedindo comida, e a senhora estava muito ocupada
para oferecer-lhe um prato. Depois Ele voltou como um gordo e desesperado
marido precisando usar seu telefone para chamar uma ambulância, e a Ele a
senhora recomendou que usasse o telefone público da praça, pois estava muito
ocupada para ajudá-Lo. Mais tarde Ele voltou como um pobre garoto de rua, e a
senhora o mandou embora, pois estava Ele sujando a calçada.
—
Senhor, me perdoe!
—
Jesus está em qualquer lugar, em qualquer pessoa ou animal, minha filha.
Berenice
acordou assustada. Percebeu que havia cometido erros lamentáveis. Chorou muito.
Como
pudera ela não reconhecer Jesus naquelas pessoas!? – pensava.
—
Realmente não O mereço, Senhor. Ainda não estou pronta para recebê-Lo.
E
assim Berenice descobriu que não bastava rezar e acreditar, mas precisava amar
o próximo.
E depois disso, ela e a família arranjavam tempo para conversar com as pessoas, passaram a ajudar e acolher os pobres, pois agora sabiam que Ele poderia estar dentro de cada um.
E depois disso, ela e a família arranjavam tempo para conversar com as pessoas, passaram a ajudar e acolher os pobres, pois agora sabiam que Ele poderia estar dentro de cada um.
FIM
Autora:
Ana Maria Maruggi
Ao meu querido amigo
secreto:
Ao
meu amigo secreto desejo os milagres de Natal!
Desejo
que a felicidade contagie os corações.
Que
os sorrisos não cessem.
Desejo
que o amor seja o sentimento maior.
Que
haja poesia nos seus dias.
Que
haja caridade em suas mãos.
Que
haja amizade de sobra para este, e para
todos os Natais.
FELIZ
NATAL!
Um
ANO NOVO MUITO PRÓSPERO!
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