SEM RASTROS - Carlos Cedano


SEM RASTROS
Carlos Cedano

Era a primeira vez que a exótica mulher aparecia no Instituto de Beleza. Quem é ela?  Você a conhece? As senhoras indagavam, e ninguém sabia responder. Sua figura e beleza impressionavam. Nos encontros seguintes foram acontecendo aproximações. Seu nome era Astrid, seu pai era alemão, descendente de um barão do Antigo Império, que conheceu sua mãe Claudia na França onde ela estudava.

— Que a trouxe a nosso país? Perguntou uma delas.

— Além de conhecer o país de minha mãe, trabalhar aqui como psicoterapeuta -  respondeu com um sotaque francês acentuado.

Dias depois apareceu nos jornais o anuncio da Doutora Astrid Rilke oferecendo seus serviços de Psicoterapeuta com especialidade em análise de vidas passadas e técnicas de relaxamento. Um cardápio muito atrativo, para mulher nenhuma botar defeito!

O consultório rapidamente encheu. A doutora tinha perspicácia suficiente para identificar e selecionar as mulheres casadas com pessoas influentes e ricas. Em pouco tempo já ganhava uma grana preta.

Quando as pacientes insistiam em convidá-la para seus eventos sociais ela gentilmente recusava explicando não ser conveniente, que poderia afetar sua objetividade na relação terapêutica. Isso também explica minha ausência no instituto de beleza completou. Cada passo da doutora tinha sido cuidadosamente calculado!

Passou a ser comum nos acontecimentos sociais que os papos femininos girassem em torno de sua pessoa. Ela me falou — disse uma das pacientes — que estou progredindo rapidamente, que estou lidando bem com minhas angústias e ansiedades! Outra comentava que após algumas sessões sentiu-se deprimida, mas que a doutora lhe explicou que inicialmente isso era normal, que depois dessa fase se sentiria melhor! Ainda outra comentava que após algumas sessões sentia-se leve e feliz e que até seu relacionamento com o marido tinha melhorado. A doutora Astrid era unanimidade,  e como era maravilhosa!

Os filhos perceberam a excitação e cochichos exagerados entre as mães embora não ficasse muito claro pra eles de que se tratava. Sabiam que a francesa estava no meio do rolo, mas sem conseguir precisar o quê. Algo não estava certo com essa mulher, sentiam algo de falso e exagerado nela.  Os jovens decidiram fazer alguma coisa, a primeira seria ficar de olhos e ouvidos bem abertos!

Souberam que morava numa casa pequena e confortável numa vila afastada da cidade e também quem era a empregada que tomava conta da casa. Passaram a segui-la quando saia pra fazer compras. Uma menina do grupo conseguiu aproximar-se dela e com jeitinho e paciência ficaram amigas.

O grupo reuniu-se novamente pra avaliar o que já sabiam. As informações mais quentes foram trazidas pela menina: em casa a suspeita não falava com sotaque estrangeiro, mais parecia ser carioca e quando saia de casa parecia outra pessoa com peruca, roupa chique e com lentes de contato verdes! 

O menino que parecia ser o líder, disse:

        — Acho que estamos no caminho certo, mas precisamos ter certeza de que é uma mentirosa, necessitamos de provas!

        — Só se invadirmos a casa dela! Disse outro dos jovens.

        — É isso que faremos! Disse o líder.

— Se ela quase nunca sai de casa será difícil, ponderou outro jovem.

A oportunidade caiu no colo do grupo! A doutora Astrid comunicou a suas pacientes que precisaria ausentar-se por uma semana para participar num seminário na capital. As sessões estariam suspensas durante esse período.

Logo após sua partida os meninos invadiram a casa. Conseguiram achar carteiras de identidade falsas com a mesma foto e nomes diferentes e um passaporte com evidencias de ser falso. Nenhum diploma de psicoterapeuta foi achado, somente um diário cuja leitura revelou que anos antes tinha trabalhado como vidente.

Os jovens reuniram seus pais e lhes fizeram um relato completo e mostraram as provas. Não foi difícil concluir que se tratava de uma vigarista que tinha enrolado as senhoras com esse papo de psicoterapeuta!

— Ingênuas! Exclamou um dos maridos.

— É verdade respondeu outro, mas precisamos ser muito prudentes e cuidadosos no modo que vamos agir. Muito cuidadosos!

Para desespero das pacientes, a doutora Astrid nunca voltou. Indagaram entre elas, com os maridos e outras pessoas, mas ninguém sabia de nada. Ela tinha se esfumado sem deixar rastos! Na casa dela as coisas estavam como as deixou. Segundo a empregada nada parecia faltar.


Passados dois anos um dos pais ligou para outro do grupo e disse-lhe suscintamente: Pedro veja a íntegra da condenação proferida por pelo juiz sobre nosso assunto na Pagina 272 do Diário Oficial de hoje. Bom dia!

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