Tela: Rosas do Brasil - Curitiba - PR
Joel
e Cicinha
Jeremias Moreira
Os times grandes
penavam para ganhar do brioso “Nho Quin”, naquele ano. Tudo por causa da
muralha que o XV de Piracicaba tinha no gol. Com apenas vinte e um anos e
espetaculares defesas, Joel se tornara a grande sensação do campeonato
paulista. Se o XV não marcasse, Joel, lá atrás, no mínimo garantia o empate.
Mas, se era um leão debaixo dos três paus, fora do gramado era tímido. Morava
numa pensão a algumas quadras do Barão de Serra Negra, mas, nos dias de treino,
costumava fazer um trajeto bem mais longo até o estádio. E, assim, passava pela
casa de Cicinha. Cicinha, por força do apelido que trouxera da infância,
porque, aos dezoito anos, se tornara uma gata estonteante: um mulherão. Ela
intuía ser o motivo desse caminho mais extenso e ficava na janela a espera.
Joel passava sorria tímido e seguia. Mais à frente parava um pouco na oficina
mecânica e de lá, lhe lançava olhares. Ela não era nenhuma Maria Chuteira, mas
andava angustiada com a indecisão do moço. Joel passou a povoar suas fantasias.
Imaginava-se abraçada àquele corpo musculoso e sentia, quase que real, os
lábios dele percorrendo seu corpo a caminho do beijo ardente. Sem se dar conta
estava apaixonada e não sabia mais o que fazer para encorajar o goleiro a se
declarar. Sonhadora, as amigas notaram uma mudança em Cicinha. Vivia em
devaneio. Certo dia, Rita e Melissa a flagraram sorrindo de nada. Deduziram:
“Cicinha está apaixonada”. Fecharam o cerco e fizeram-na confessar: “Quem é o
cara?”. Relutante, contou. Falou da sistemática paquera que rapaz fazia. Tinha
certeza de que ele estava afim dela, e não sabia qual o motivo de não se
declarar.
— Afinal, quem é ele?
– perguntaram.
— É o Joel! – disse
decidida.
— Que Joel?
— O Joel do XV.
As duas se olharam e
desandaram a rir:
— O Joel é franga,
Cicinha.
Diante do olhar
estupefato da garota, Rita concluiu:
— É! O Joel é gay e
tem um caso com o Rubão da oficina perto da sua casa.
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