DEUS ESCREVE CERTO POR
LINHAS TORTAS!
Carlos
Cedano
Dona Irma é a melhor secretaria
da firma dizia sempre seu diretor e chefe. Além de pessoa de sua absoluta confiança
era seu braço direito. Detalhista, nada escapava a seu olhar sempre atento. Mas
sua principal “virtude” era sua permanente disposição para atender pedidos de
seu chefe, era pau para toda obra. Não tinha horário de saída quando precisavam
dela!
Porem, não era uma figura
simpática aos funcionários e era temida. Pairava sobre ela a suspeita de ser “olhos
e ouvidos do diretor”.
Um
dia três funcionários almoçavam num boteco, próximo da empresa e dialogavam:
— Estou chateado! O diretor me chamou
para discutir o projeto que lidero e quando concluímos o assunto ele insinuou
que meu comportamento no escritório não era muito profissional, que tratava às
colegas e secretarias com “muita familiaridade”.
— Que bom que você falou isso Marcos por
que umas semanas atrás, numa situação similar, o diretor meio em sério meio em
brincadeira, me comentou a falta de pontualidade em meus horários, disse Raul.
Outros
profissionais também têm vivido a mesma situação com o diretor. Será que dona
Irma passa “informações” pra ele? Agregou Marcos.
— Precisamos ser cuidadosos - disse Suzi,
uma jovem arquiteta - corremos o risco de sermos injustos. Precisamos verificar
se é ela mesma!
Os amigos se reuniram algumas
vezes para bolar um jeito de saber se dona Irma era a informante! O plano
parecia bom e concordaram que com cuidado e paciência daria resultado! Bateram
martelo e o processo foi iniciado.
O primeiro passo era
encontrar um funcionário de meia idade, solteiro se possível, de boa aparência
e, sobre tudo, de fino trato. O escolhido foi seu Gonzalo, analista financeiro
com longo tempo de casa, viúvo e sem filhos. O cara ideal para uma quarentona
invicta!
O passo seguinte foi dado
dois dias depois. Quando dona Irma entrou cedo na sua sala encontrou uma bela
rosa com um cartão que dizia simplesmente: De um admirador incondicional! Sem
mais nada além da data. Reciprocamente, seu Gonzalo encontrou um cartão levemente
perfumado onde se lia: De uma colega, com toda minha simpatia!
O plano continuou. Num
outro dia os dois envolvidos receberam bilhetes em envelopes da firma
devidamente fechados. A reação mais notável foi de dona Irma. Ela descia para o
outro andar da empresa e demorava a retornar. Quando o fazia vinha com o rosto
que parecia esboçar um leve sorriso. Descia voltando cada vez mais feliz e
descontraída. Agora os organizadores do plano estavam surpresos! Não esperavam
resultados tão imediatos para neutralizar dona Irma!
— Que diabos esta acontecendo? Não estou
entendendo nada! Disse Marcos.
— Eu também não! Retrucou Raul.
— Vou investigar, as secretarias do
primeiro andar são minhas amigas e alguma coisa devem saber - disse Suzi.
No
dia seguinte ela chamou seus dois colegas para uma reunião no andar térreo. Suzi
começou seu relato:
Acho que viramos cupidos
sem querer! Todos acham que dona Irma já suspeitava que seu Gonzalo lhe tivesse
enviado a rosa, ela foi direta e lhe perguntou:
— Qual é sua flor preferida para agradar
uma mulher?
— Uma rosa vermelha! Respondeu quase que de
imediato seu Gonzalo em quanto o rosto de dona Irma resplandecia! As paixões ocultas
se mostraram de parte a parte.
Com o passar dos dias as
coisas iam mudando. Dona Irma já não chegava tão cedo, seu “look” era mais
caprichado e moderno e o mais significativo, agora saia do escritório às
dezoito horas em ponto e com certa pressa! O pior foi para o diretor! Parecia
uma barata tonta quando tinha problemas que não sabia resolver. Quanta falta me
faz dona Irma nestas horas! Repetia constantemente em tom choroso e todos
ouviam!
O golpe fatal pra ele veio
quando dona Irma lhe comunicou que casaria muito em breve com seu Gonzalo e
deixaria de trabalhar. Seria simplesmente dona de casa como sempre sonhou. Esse
miserável traidor! Ladrão de secretárias! Foram as expressões frequentes do
diretor durante um tempo.
Num
restaurante os autores do plano comentavam:
— Nunca imaginei que o resultado de
nossa trama fosse machucar tanto nosso diretor! Falou Raul.
— Que desfecho, hein! Foi
bom para os funcionários de nossa área! Completou Suzi.
— Sim! Continuou Marcos, desde que dona
Irma foi embora o diretor nunca mais fez insinuações sobre comportamento
inadequado dos empregados, isso tranquilizou as pessoas e melhorou o ambiente
de trabalho. Espero que tenha aprendido a lição!
Os três brindaram sorrindo com a sensação do
“dever cumprido”.
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