UM VENDEDOR POSUDO
Oswaldo
Romano
Quando namorava Cecília, quase noivo,
visitava-a com desusada frequência, graças a minha moto. Sua casa ficava numa
das antigas vilas de São Paulo, aquelas em que as casas eram geminadas.
A direita morava Dona Paula, uma
italiana engraçada sempre aportando na nossa janela com suas histórias.
Do lado esquerdo, a principal figura era
o Wanderley. Gostava do pijama, com que ele aparecia frequentemente. Da
engraçada Dona Paula vou contar outra hora.
Mas quando Wanderley saia de casa,
vestido para ir ao escritório, estava impecável. Terno de casimira Aurora blue
escuro, camisa bem passada branca, gravata listrada com prendedor dourado,
sapato lustroso, engraxado.
Eu, na época era contador, girando de moto
usava casaco e luvas longas de couro, camisa quadriculada, calça jeans,
capacete de nonato de búfalo, óculos Ray Ban. Não existiam os capacetes atuais.
Os melhores eram vindos da Europa, rescaldos da finda guerra, recolhidos dos
soldados e aviadores tombados. O meu era da RAF - Royal Air Force. Maravilhoso!
Wanderley naquela estica devia ser alto
executivo, nunca descobri sua ocupação.
Graças a Harley, era fácil percorrer São
Paulo de cabo a rabo. Certo dia, visitando a Freguesia do Ó, atrás da sua boa cachaça,
no largo da igreja ouvi uma voz familiar. Anunciava: Olha o pirulito! Olha o
pirulito! Pirulito, gente! O melhor é aqui!
Era o Wanderley. Uma capa branca cobria
todo seu corpo, e a bandeja perfurada, pendurada por tiras no pescoço. Alguns
furos, ainda com os suculentos pirulitos.
Cheguei por detrás e disse: Moço me
vende um pirulito? Ele se virou, lógico, ficou surpreso, mas sem perder o
status, arregalou os olhos e disse: Óh Óh Óh, pra você não vendo. Eu dou.
Era tarde, pessoas estavam chegando para
ver o por do sol, famoso visto dai. Comprei minha pinga. Convidei-o, ele
aceitou voltar de garupa para casa. Ganhei três pirulitos, que levei para a namorada.
— Nossa, de onde veio isso!!
“DE UM INVEJÁVEL TRABALHADOR, APRIMORADO
E HONRADO”
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