Louca
por Sapatos
Vera Lambiasi
Em viagem à Espanha, na mocidade,
comprei minhas primeiras alpargatas.
Era moda no Brasil, mas difícil de
encontrá-las.
Haviam umas, contrabandeadas do
Uruguai, usadas por operários, meio toscas. Serviam para matar a vontade, só
que machucavam os pés, só cordas e pano, sem acabamento.
As madrilenhas eram bem
confeccionadas, em variedade de cores e modelos. Com tiras, sem, salto alto,
baixo, plataforma, anabela, lisa, estampada ...
El Corte Inglés era o paraíso das
compradoras alucinadas. Almodóvar teria feito um belo filme sobre as mulheres
ensandecidas, nas gôndolas, por um par de
espadrilles.
De mala cheia, retornei para casa,
disposta a desfilar um par em cada ocasião.
Mas, São Paulo era a terra da garoa,
e elas foram ficando empapuçadas.
Era calçar e molhar, num desespero
diário de pés encharcados.
Aos poucos, fui abandonando-as, um tanto ressentida pelas
promessas fashionistas.
E, descobri, enfim, as sapatilhas
Repetto, de verniz, e solado de couro resistente.
Mas, difícil de encontrar no Brasil,
viu!
Comecei tudo de novo.
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