O
Exibido
Vera Lambiasi
O boiadeiro apareceu na pensão para
pousar, de relógio de ouro.
—
Mas
onde, diabos, esse cabra arrumou dinheiro para comprar uma joia dessas?
Era feio, sujo, nem merecia usar
enfeite.
Balançava o braço esquerdo,
provocando os pobres hóspedes.
O ornamento brilhava, ofuscando meus
olhos.
A inveja foi crescendo no meu peito,
que já estufava, de tanto rancor.
Esperei acabar a janta.
Foram todos para o alpendre, fumar
um cigarrinho de palha.
Minhas pestanas seguiam os gestos do
boiadeiro.
Metido, contava vantagens de laçar
bezerro.
O ódio me cegava.
Segui o jagunço no quarto, e
ataquei.
Segurei no pulso dele tão forte que
sangrei os dedos.
Mas, o homem era esperto por demais.
Com a mão direita, sacou o laço do bolso das calças, e me paralisou. Me amarrou
no pé da cama e foi chamar a minha mãe.
Vergonha não mata, porque encarei a
velha e neguei tudo.
Pobre mãinha, que tudo sabe, e esconde.
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