NUNCA MAIS ENCONTREI
MURILO JORGE
Oswaldo
Romano
Murilo Jorge foi um médico que passou em
minha vida, lá em Mineiros do Tietê.
De pronto ganhou a simpatia da população,
graças a sua presteza e conhecimentos dos hábitos do interior.
A troca das personalidades naquela vida
pacata era uma constante. Acontecia com o delegado, o escrivão, o padre.
Eu me chamo Walter e minha patente é o
de anspeçada. Tenho muito contato com essas personalidades. Minha função, como
é sabido, é percorrer a cidade e levar aos superiores, os desarranjos
encontrados.
Fazia isso de moto.
Numa
dessas andanças, visitando um sítio do município, fui atacado pelo Miura, um
conhecido e valente animal. Não bastasse a dolorida chifrada que levei na traseira, fui jogado contra as pedras. Machucou. Machuquei muito.
Por obra de Deus, um tropeiro que
passava, coisa rara naquela pastagem, apeou, deu-me atenção, própria daquela
gente. Pediu calma e saiu em trote puxado. Disse ir chamar Murilo Jorge, o
médico.
Cumprindo sua palavra, regressou com o
doutor. Um médico na mais alta expressão da sabedoria. E eu estava ali, na mais
alta expressão da dor.
Num momento, com as duas mãos apertava
meu peito. Desconfiava eu não suportá-la, estava muito ofegante.
Era um bom médico. Porque trocam essa
gente?
Trocam delegado, trocam o juiz, o padre,
o carcereiro.
Tinham que trocar o Dr. Murilo Jorge?
Nunca mais encontrei o homem que salvou
minha vida. Mas, tenho-o guardado na caixa dos homens bons que conheci.
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