O FILHO CLEPTOMANÍACO
Oswaldo Romano
Aquela
casa na beira da estrada, com paredes marcadas pela poeira vermelha do barro
ali grudada pelo tempo, abrigava primeiro, os belos, mas ruidosos pombos. Segundo,
acolhe exaustos romeiros. É uma antiga e segura pousada.
Dona
Vilma, a proprietária, vivendo dos
eventuais viajantes demonstra o prazer ao recebê-los. Pessoa de hábitos simples tem um filho, Leonardo,
homem já formado, mas problemático.
Inquieta,
corre o dia todo pela casa, atendendo aqui e ali, arrastando seus comidos chinelos,
um testemunho de muito trabalho.
A
noite é a última a se deitar. Seu filho desde a infância tem uma doença considerada
incurável. Pratica pequenos furtos e ela precisa como nunca, vigiá-lo. O médico
lhe deu o nome que ela para não esquecer, sempre leva consigo. Cleptomaníaco. Como precisa dar
segurança aos hospedes, há tempos
contratou Anselmo, um capataz, recomendado pelo seu vizinho, para ajudar nos
afazeres.
Odete,
uma senhora da capital, todo ano faz esse caminho, e ali hoje, ia se hospedar.
Sabiam
que vinha comprar produtos granjeiros
das várias chácaras e deduziam que portava polpudos valores. Leonardo tomado
pela tentação, corroía-se da vontade de nessa noite roubá-la, sabendo que chegaria
cansada da viagem.
Assim,
esperou o momento oportuno e quando imaginou que ela já estava no segundo sono,
cuidadosamente, portando apenas uma vela, invadiu seu quarto a procura da
bolsa.
A
má iluminação fez com que tropeçasse no pé da cama, acordando assustada sua
próxima vítima. Num ímpeto, jogou a vela, pulou sobre ela, e com as duas mãos,
agarrou seu pescoço, apertando até que não mais se movesse. Não planejara ferir
ninguém, muito menos matar, mas não podia ser reconhecido. Frustrado seu
intento, letárgico, fugia quando...
Pelo corredor chegava o capataz Anselmo
portando um lampião. Vinha com a mesma ideia do filho Leonardo. Seu propósito
não era roubar toda bolsa, mas parte do dinheiro que ela só perceberia
depois. Essa oportunidade única, não
deixaria passar.
Mas,
quando abriu a porta, seu lampião iluminou aquele tétrico quadro. Num lampejo
fez-se de guardião, puxando para fora Leonardo que dizia aflito:
—
Eu não queria matar. Não queria...
Chorava copiosamente no ombro do
capataz. Este, no pensamento, agradecia a sorte que teve de não chegar depois,
e ser pego como o assassino.
Forte
vento bate a porta do quarto. Os dois olhando ao mesmo tempo tremeram
assustados. Uma rajada fria, cortante, passa pelas suas pernas. Encararam-se, com
choro, lástimas e incrédulos, criaram um ambiente ruidoso, acordando hospedes.
Portas se abriram e vem pelo corredor mal iluminado, uma mulher alvoroçada.
—
Meu Deus, parece minha mãe! Anselmo, minha mãe vem vindo! E agora! E agora
Anselmo?
—
Calma. Agora calma. Sua mãe vai entender seu problema.
Quando
a mulher se aproximou, atemorizado gritou: Não é minha mãe! Abalado balançava, ia
desmaiar. Anselmo o segurou.
Era
Odete que acordou com o barulho. Por segurança a mãe havia trocado os quartos.
—
Não, não, não! - Gritava Leonardo. Um não doído, de terror. Contorcendo-se
todo, apertava o abdome, virou-lhe o estomago, desabou pelo chão.
Odete
clamando Deus correu socorrê-lo.
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