O cleptomaníaco - Fernando Braga


O cleptomaníaco
Fernando Braga

Ele havia sido da polícia militar até sua aposentadoria aos 65 anos. Sempre dirigira os carros da polícia e quando parou, decidiu arrumar um emprego de chofer particular. Juarez, logo estava trabalhando em casa de dona Julieta, uma viúva, que tinha estabilidade econômica, vida confortável e que gostava de passear e viajar.

 Certa ocasião resolveu ir visitar sua irmã em uma cidadezinha do interior, a duzentos quilômetros de BH, onde morava. No trajeto tinham que percorrer uns 50 quilômetros por estrada vicinal, de terra. O tempo piorou, choveu forte e este trecho ficou realmente difícil. Estava entardecendo, viram uma casa ao lado da estrada, onde estava escrito: “Pensão da dona Elisa”. Tinha um aspecto razoável. Pararam. Pediram quarto e foram atenciosamente atendidos pela proprietária, que vivia, com seu filho de 17 anos, presente na ocasião. Julieta, sempre que viajava, colocava algumas de suas joias no pescoço e broches, mesmo agora, indo para o interior de Minas. Foi preparada uma bela refeição, que comeram com muito gosto, conversaram, viram televisão e por volta das 22 horas foram para seus quartos.

Por volta da meia noite, Juarez acordou com um barulho no quarto ao lado, de arrastar móvel, de alguém se debatendo, com respiração ruidosa. Pegou sua lanterna e abriu, subitamente, o quarto de onde vinha o ruído e deparou com o jovem tentando estrangular uma senhora. Ao vê-lo, o jovem imediatamente se afastou da cama, tentou escapar, mas foi facilmente detido, derrubado e imobilizado pelo ex-militar. A senhora deitada na cama, que punha as mãos no pescoço e  recuperava  seu folego, sentou-se e vendo o chofer com seu joelho sobre o tórax do rapaz, pediu com a voz entrecortada, que o soltasse. Nisto chegou ao quarto, dona Julieta, que acendendo a luz e vendo a cena, perguntou pelo ocorrido.

 Juarez respondeu:

— Ele estava tentando matar a mãe e se eu não chegasse a tempo, ele teria conseguido! Julieta perguntou à mãe, se aquilo era verdade, ao que ela não respondeu e pediu novamente para que o chofer soltasse o menino. Juarez vendo que o rapaz não portava nenhuma arma, soltou-o. O rapaz levantou-se, muito assustado, com os olhos esbugalhados, cruzou o olhar com sua mãe e saiu do quarto e da casa.

Julieta aproximou-se de dona Elisa, perguntou se ela estava bem e disse:

— Foi por isso que você me fez mudar de quarto?

 Respondeu com dificuldade:


— Meu filho é cleptomaníaco, desde criança. Desta vez ele deve ter aprendido!

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