TURISTA
PERTURBADO.
Mario Augusto Machado Pinto.
Batendo palmas para chamar atenção, Flora
disse que a Sonia estava querendo saber como fizemos a viagem. Quem se propõe
explicar?
O Marcelo disse que poderia fazer um relato
resumido desde o começo quando coincidentemente todos nós estávamos de férias
querendo viajar.
Começamos escolhendo aonde ir para
conversar, trocar ideias.
Alguém sugeriu a casa da Floripes.
Surpreendida e embaraçada com a sugestão disse que só colocava uma restrição:
não queria bagunça nem gritaria.
As sugestões agitavam o ambiente. Era tanto
palpite que ficamos confusos. Ir a Salvador e dali ao nordeste foi a sugestão
aceita.
Havia o problema do custo, mas o Henrique,
pela internet, resolveu com detalhes que cobriam todas as perguntas.
Após 20 dias e várias reuniões, chegamos a
Salvador.
Francamente, ninguém gostou: “as coisas”, o
elevador Lacerda e outros locais estavam sujos. O pessoal local que chamava a
gente de “meu Rei” precisava de banho. O caminho até a Praça do Pelourinho
cheirava a banheiro público. Além disso, a comida fez algum estrago. Fizemos as
visitas turísticas durante três dias verdadeiramente desastrosos. Mas, foi
comovente a demonstração de fé ocorrida durante visitação às igrejas principalmente
a do Senhor do Bonfim.
Queríamos ir embora e ficamos aliviados
quando o Pedro anunciou que nosso carro já estava na garage do hotel. Partimos. Foi um trecho que mostrou um pouco
do ambiente inóspito em que vive grande parte da nossa população. Viagem bem cansativa
marcada por erros ao querer conhecer praias e visitar locais de rendeiras.
Chegamos a pegar a estrada para o Sul. Dormimos
em Aracajú. No dia seguinte fomos a
Recife. Calor estonteante, chuva á tarde, alagamentos, verdadeira tragédia.
Ficamos na Pensão Flora. No dia seguinte o Marcelo disse que iriamos a Paulista,
pertinho, clima ameno como o de São Paulo.
O Carlos e a Maria reclamaram, perderam a
serenidade dizendo que havia imposição sobre o que fazer. Iriam passear por
praias, velejar de jangada, nadar nos piscinões de arrecifes. Iriam numa
excursão local. Separaram-se do grupo.
Fizemos nosso passeio. Visitamos fazenda
com cafezal, uma indústria têxtil e uma confecção. Camarão, lagosta à vontade. Compras,
compras, mulheres contentes. À tarde aproveitamos para ir à praia, velejar de
jangada beber água de coco.
Já na “Flora” estávamos alegres, contentes
da vida comentando o que fizemos quando Carlos e Maria chegaram e já foram
dizendo que deviam ter ido com o grupo. Pagaram os olhos da cara pelo passeio e
foi tudo uma droga; a jangada ficou para o ano que vem. Foi tudo tão ruim, mas
tão ruim que dispensaram o serviço turístico, e voltaram a pé para apreciar e
vivenciar o clima da cidade. Perderam-se, ficaram atrapalhados e por sorte
chegaram. Foi tudo muito ruim. Ainda estavam envergonhados, pediram desculpas
pelo que disseram e fizeram. À noite, com várias rodadas de batidas de frutas e
pedaços de jaca, perdoamos o casal.
Após dois dias de praias, jangadas,
lagostas, camarões, carne de sol e manteiga de garrafa deixamos o carro no
aeroporto e voltamos.
É isso aí, disse Marcelo!
A tal da Sonia perguntou ao Marcelo se
havia alguma coisa mais.
Silêncio.
Levantou-se, abriu os braços dizendo: Bem
que a Flora me avisou. Vocês são um bando de maluquetes, beberrões, fumantes e
cheios de si. Só pensam em vocês, mas adorei vocês todos. Tô dentro. Cadê a pinga
pra molhar o bico?
E foi por aí afora, destrambelhou de vez
provocando muitas piadas e risadas. Entrou pro grupo.
Hoje, entre nós, quando alguém fica nervoso
e agitado, dizemos:
Olha, olha, a Soninha está chegando, vai
molhar o bico!
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