Noivo Precavido
José Vicente Jardim de Camargo
— Como, você pirou? Perguntou Tiago ao
melhor amigo Fernão assim que este lhe contou que acabara de alugar um apê em
frente ao prédio de Marília, sua noiva,
e na mesma altura de andar.
— Não! Diz Fernão, são cismas que tenho e
que quero saber antes do casamento. Não tenho cara de pau nem jeito de
perguntar diretamente a ela, pois, pode se zangar e terminar o noivado. Então
com o apê e um binóculo potente vou descobrir por mim mesmo.
— Você desconfia que ela lhe esteja traindo
com alguém? Indaga Tiago ansioso para saber com quem seria.
— Não se trata de relacionamentos com outras
pessoas, mas detalhes da sua pessoa, do seu dia a dia em casa, que não consegui
desvendar, responde Fernão. Como por exemplo:
— “Dentadura! Não suporto viver com alguém que
tira os dentes todas as noites e os coloca em um copo de água. É um trauma que
tenho desde a infância quando via minha mãe fazendo isso”. E mais:
— “Quantas vezes escova os dentes por dia? Usa
fio dental e faz gargarejos regularmente? Sou muito exigente na higienização corporal!”.
— “E quanto a ordem na casa? É ordeira com
suas coisas ou é daquelas que vai atirando ao ar tudo o que traz e veste da
porta de entrada ao quarto de dormir?”.
— “Sabe
cozinhar ou só usa “delivery”? Quanto tempo passa ao telefone quando está em
casa”?
— São
detalhes que só vou saber com certeza após o casamento. Mas aí a vaca já caiu no brejo, não tenho como voltar
atrás a não ser pelo divorcio que nem quero pensar...conclui Fernão.
Tiago nunca soubera da implicância do amigo
com tais pormenores, mas até reconhecia que o mesmo podia ter um fundo de
verdade – “Melhor um pássaro na mão do que dois voando”...
— Mas não é melhor sair de férias juntos?
Você descobre esses detalhes rapidamente, continua Tiago querendo dar uma de
cupido salvador.
— Já saímos! Afirma Fernão. Mas Marina é
muito tímida e recatada. Coisas mais íntimas só depois do casamento. Quando toco
no assunto, desconversa, o que me deixa mais desconfiado ainda. E depois,
férias não é a mesma coisa que uma vida conjugal. É algo passageiro onde o
comportamento da pessoa pode não ser o real.
— Mas me desculpe, interrompe Fernão o
amigo. Tenho de ir, pois, já estou atrasado para uma consulta médica.
— Algo grave? Indaga Tiago.
— Nada de mais, é aquela danada da coceira
que me dá no corpo todo quando fico suado após o jogo de futebol. Fora o cheiro
de catinga braba...
— Mas a Marilia sabe desse seu problema?
Pode ser contagioso, indaga Tiago.
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