Controlando
Mario Augusto Machado Pinto.
À noite, ao redor das oito, tomo o que convencionei
chamar de “sopinha”, um desses preparados desidratados que só necessitam de
líquido quente para se transformar em caldos, às vezes até saborosos.
Interrompo o que faço, vou á sala da TV onde
Ceci assiste ao noticiário ou alguma outra coisa. Sua caneca do chá tomado com alguma bolacha está
na mesinha lateral com o abajur. Pergunto se quer algo mais e recebo sempre a
mesma resposta negativa.
Peço a caneca e o prato de sobremesa e vou
à copa preparar minha sopinha. Bebo de uma caneca apropriada, coloco alguns croutons ou então pedacinhos de miolo de
pão integral. Bebo, como algum complemento enquanto aguardo ela aparecer. É certeza.
Chega com aquele ar de quem não quer nada, mudinha,
aparência distraída ou de que há coisa a fazer, mas não sabe bem o que nem
como. Ledo engano. Energética, nada pergunta, mas o que quer mesmo é saber se
tomo somente a sopinha, se há alguma coisa a mais preparada como reforço. Vai
por trás de minhas costas pegar sua maçã no minibar. Assim faz sua checagem.
De vez em quando pergunta se vou comer o
doce em calda que está preparado, ou alguma fruta, mamão papaya, abacaxi ou
melão fatiados. Você deve comer frutas,
faz bem ao trato intestinal além do que não engordam. Olha a sua barriga! Daqui
a pouco vai precisar de bengala para se equilibrar. Que horror! Digo que
sim, mas nem sempre aceito a indicação. Gosto mais de doces.
Após comer lavo a louça e os talheres.
Enquanto faço isso recebo nova visita. É para colocar na lixeira as cascas da
maçã. Na verdade é para advertir: não
deixe resíduo na pia, entope os canos. Faço isso todos os dias e não
necessito que me lembre, sabendo como fazer não deixo resíduo algum, mas há a
insistência: já limpei várias vezes; tome
cuidado e vai continuar a ver TV.
Guardo a louça, os talheres, preparo a mesa
para o café da manhã e vou ver TV. Em geral é algum filme; não é muito
agradável: o som é fixado a baixo volume, os letreiros mudam tão rapidamente
que não consigo ler. Prefiro noticiário. Quando me irrito, leio os articulistas
do jornal do dia. O barulho de virar as
páginas está atrapalhando. Não precisa dobrar tão direitinho. Que coisa!
Ao redor das dez horas diz Vou me deitar, estou morrendo de sono, você
vai? Geralmente digo que vou após terminar as palavras cruzadas do jornal. Não durma na poltrona, não sei como pode;
você fica todo torto...Boa Noite (quando diz), e lá se vai.
Após o banho, volta, passa pelo corredor e
olha para a sala da TV para ver se estou dormindo. Se estou, diz de imediato, vá se deitar, vai pra cama, não seja
teimoso. Geralmente vou, leio umas duas páginas do livro da vez e durmo o
sono dos justos, de uma enfiada só. É tão bom que nem me lembro se sonhei.
Nunca.
Levanto-me.
Dou inicio a mais um novo dia.
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