Turista em apuros
Fernando Braga
Certa ocasião, estávamos em
viagem pela Escócia. País lindo, com povo muito hospitaleiro. Havíamos alugado
uma perua Van, bem confortável, espaçosa, onde coube toda nossa bagagem. Fomos
de Edinburgh até Inverness, pelos Highlands, e descemos até Oban, na costa
leste, passando antes pelo Lago Ness. Em Oban, assistimos a uma apresentação de
música escocesa, vestimentas a caráter, fomos conhecer uma destilaria famosa de
uísque (Glenmorangi) e no final da tarde saímos em direção a York, na
Inglaterra. Enchemos o tanque em Oban e saímos, com o tempo fechado e
chuviscando.
Após uns 10 kms, o carro começou
a falhar, e vendo que ia parar, saí da estrada principal, de pista única de mão
dupla e peguei uma pequena estrada estreita, vicinal.
Logo o carro parou, obstruindo a
pequena via. Percebi, que havia abastecido com o combustível errado. Ao invés
de gasolina, gazoil.
Estava chovendo e anoitecendo. Nós
quatro empurramos o pesado veículo para
o lado para não obstruir totalmente a via. Ficamos parados pensando em uma solução plausível.
Inicialmente, o melhor seria pedir uma carona de volta a Oban. Mas, deixar
o carro com toda nossa bagagem, era muito arriscado. Eu e meu filho, com um
guarda-chuva fomos até a via principal, olhamos em ambas as direções e
percebemos que o movimento de carros era pequeno, mas ao longe, a uns 300
metros, havia uma casa grande iluminada. Meu filho logo se propôs a ir andando
até lá para ver se conseguia alguma ajuda. Voltei para o carro, acendi as luzes
das lanternas e interior, peguei o contrato do aluguel do carro, mas os
celulares não funcionaram lá. Estávamos em um mato sem cachorro, sentíamo-nos
perdidos.
Felizmente, a Escócia, não é país
perigoso. Estávamos
aguardando pelo meu filho, que dificilmente traria uma solução plausível.
Eis que vindo um carro em nossa frente, antes
de passar pelo estreito espaço deixado, parou. Desceu um senhor, que veio
conversar conosco. Perguntou o que havia acontecido e se precisávamos de alguma
ajuda. Contei a ele, que havia colocado combustível
errado e que o carro havia parado. Disse que éramos do Brasil.
Ele me pediu o contrato do
aluguel, pegou seu celular e conseguiu falar no escritório da companhia em Glasgow.
Deu a nossa localização precisa, pois conhecia bem aquele local e nos confirmou que dentro de uma hora ou um
pouco mais chegariam para resolver nosso problema. Tranquilizou-nos, e disse que este serviço funcionava muito bem
no país. Agradeci muito, pedi seu e-mail e ele foi-se embora. Após meia hora
voltava meu filho dizendo que no local, a cada uma hora parava um ônibus que ia
para Glasgow ou para Oban. Aguardamos mais uma hora, no escuro, achando que não
iriam nos localizar, nos socorrer. Eis que volta pelo mesmo caminho o escocês
que havia nos socorrido. Vendo-nos ainda no mesmo local, parou, conversou
conosco, ligou novamente para a seguradora e confirmou que estavam à caminho, e
que levariam no máximo meia hora Realmente, mais vinte minutos, chegou um
grande caminhão, que guinchou nosso carro. Levariam-nos até Glasgow e que dois de
nós poderiam ir com ele na cabine. Em Glasgow, já
havia outro carro semelhante, nos aguardando. Tivemos que pagar apenas um
tanque de gasolina. Mudamos as bagagens e fomos até o Hotel onde bebemos um
scotch e tomamos uma bela garrafa de vinho.
Viva a Escócia, meu segundo país.
Na volta, contatei o mui amável escocês por e-mail,
e garanti a ele que caso viesse ao Brasil, a São Paulo, iria, com todo prazer recepciona-lo.
Foi, realmente, gente fina!!
Todas as vezes na vida que tiver
uma dificuldade, que pareça insolúvel a princípio, não adianta desesperar, porque
sempre há uma saída.
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