Pareidolia nas Ondas do Mar - José Vicente Jardim de Camargo

 


Pareidolia nas Ondas do Mar
 José Vicente Jardim de Camargo

Passeando pela praia observando o horizonte do mar, vi nas espumas brancas das ondas quebrantes, a figura de uma mulher desnuda, de cabelos longos e soltos que de braços estendidos me acenava para si.

A imagem tinha tal poder de realidade, que, sem duvidar, me atirei na água em direção a ela.

Com a água me encobrindo, mas mantendo o olhar fixo na figura que bailava com o vai e vem das ondas, nadava destemido sem perceber os movimentos bruscos e aflitivos dos banhistas que me assistiam com gritos de alerta:

- Pare! Volte! Não Continue! ...e mais:

- Olhe a placa de Perigo! Correnteza Forte! Risco de Vida!...

Mas... Nada me detinha no meu propósito de alcançá-la e jogar-me em seus braços de água...

Novos gritos se ouviam:

- Está louco! Vai se afogar!...

Foi então, surgindo do nada, que um surfista me agarrou pelo braço e me arrastou junto à praia.

Curiosos me cercaram perguntando:

- Você está bem?

- Quer que te leve ao hospital?

Eu, sem bem entender o que estava acontecendo, nada mais desejava do que voltar ao mar, encontrá-la...

- Foi miragem! Me diziam...

- Não! Para mim foi algo real, maravilhoso, que valia a pena o desafio da morte.
 Assim voltaria àquele dia distante, do passeio de lancha, quando Marta, sentada ao meu lado se jogou no mar revolto e desapareceu...

E eu, sem ação, não tive coragem de tentar salvá-la da sua decisão repentina de mudar seu destino.

O tempo passou, mas no meu pensamento aqueles momentos intermináveis permaneceram.

E esta seria a oportunidade de reparar minha atitude que me persegue desde então,  acusando-me de falso e  covarde amigo...


Hoje me seguram, não me deixam alcançar minha paz, amanhã talvez...


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