A HORA DO TERÇO
M.Luiza
de C.Malina
Leonor
era uma mulher inteligente. O fino recato era demonstrado pelas longas saias
justas de tecido pesado, que escondiam a bela silhueta.
O relógio
de pulso, a preciosa joia, cronometrava a vida atribulada entre a profissão,
aulas particulares, idas frequentes à
igreja, e afazeres juntos aos necessitados.
Em
dias de fortes chuvas, um a um chegavam com seus sobretudos encharcados, mas
sorridentes. Era o momento do recolhimento íntimo e pontual.
O
sagrado horário das dezoito horas, horário da Ave-Maria, sempre aguardado com
ansiedade. Momento em que reuniam-se os cinco irmãos, sintonizados na Rádio
Nove de Julho. Tão metódica quanto a família, jamais atrasava este encontro
religioso, com o chamado do sino nas seis badaladas.
Leonor
era extrovertida e preocupava os irmãos com as constantes chegadas “em cima da
hora”. Andava, como que, meio desavisada da vida.
Certa
tarde, todos estavam ajoelhados, enlevados em semblante divino, oravam em voz
alta, e lá pelas tantas, dentro da monotonia uníssona, o toque do telefone faz
com que Leonor seja delatada em suas preocupações.
Troca
a oração: ... “assim na terra como no telefone”...
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