SÓ QUERIA UM BOM DESCANSO - Oswaldo Romano



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SÓ QUERIA UM BOM DESCANSO
Oswaldo Romano




Michel, o investigador da equipe do Poá, gozando seu período de férias, resolveu pegar sua vara de pesca e embrenhar-se pelo interior.

 Contou-me esta mirabolante passagem:

         — Numa fazenda pouco conhecida, ia em direção do rio indicado para pescar, mas fui informado que o rio não estava para peixe. Então por que não mudar de direção. Entrei pelo mato mirando outro trecho. Falaram que depois do morro o riacho era pouco explorado, mas para alcançá-lo tinha que atravessar as terras alagadiças de antiga plantação do arroz agulha. Aventurei-me confiando nas botas e estava bem treinado na Academia de Polícia para situações difíceis.

Caminhando no encalço do córrego pesqueiro, amassava aos solavancos o barro das valetas que antes era um vasto arrozal.

         Cobrindo os olhos dos raios do sol, depois de vencer léguas de barro, vi distante sob uma arvore um carro. Pelo aspecto só uma carcaça. Andando mais um pouco, confirmei o estado do que era carro e logo atrás uma casa entre um capão, em estado lastimável, abandonada.

         Cheguei com cuidado, distante uns vinte passos, ramas do mato já entravam pela janela quebrada. Agachei-me, mão no queixo, observava aquele abandono. Um sopro balançou a porta torta quase a cair.

         Levantei-me quando ouvi água corrente na baixada. Era o procurado riacho, todo coberto pelas ervas.

         A outra janela, noutra parede, tinha uma folha estava pendurada.

         Tomado de coragem aproximei, depois de correr os olhos para os lados. Não vendo nada cheguei até a entrada. Como policial, levava minha arma, mas jamais pensei em usá-la nesse pedaço de mundo, a não ser para defesa, caso atacado por algum bicho.

         Lamentava estar só. Empurrei com cuidado a porta podre, entrei. Num canto só bugalhos, muitos panos mostrava um pernoite de alguém. Um rato assustado, mais do que eu, corre e se esconde. Foi o único momento que pensei na arma.

         Noutro canto tijolos posicionados para fogão, carvão queimado, uns paus. Ainda havia sol, mas já soprava a brisa.

                  Afastei-me lentamente, caindo fora, e ao virar-me dou de cara com um assombrado cabeludo, barba que descia até a cintura e olhos azuis aguados.  Portava um rústico cajado. Nesse momento senti algo imprevisível. Tremi, mas puxei a fala:

— O senhor mora aqui sozinho? —Até hoje, porque você vai ficar agora comigo.

         Fiquei sem chão, por pouco não ia armar uma encrenca, estragar minhas férias.  Momento de refletir, apelar para o bom senso. Ficar violento? Pensei sacar o revólver, dar um susto. Não, não era boa hora, estava frente a um andarilho, sem dúvida maluco. No impulso eu disse:

         — Que bom senhor, morar aqui.

         Eu saindo dali numa boa, resolveria tudo, disse:

—Vou buscar minhas coisas que deixei lá em cima, volto já, já.

         — Você me reconheceu, eu percebi. Reconheceu meu cetro, é único!

         — O senhor é o,o,o...

         — Rei Nabucodonosor.

         — Óh, Sim, sim, senhor!

         — Escute meu fidalgo, por que vai levar a vara? Deixe-a aqui.

         — Sim, Alteza.

         Saí pisando em ovos, entrei pelo mangue, tentei me apressar, o barro segurava. Pensava... como acabaria uma discussão com esse louco? Se eu dissesse: não fico, qual seria sua reação? Só pagando pra ver. Não! Não. Deixei barato, não vou estragar minhas férias, acho ter feito o melhor. Ah, ah Nabucodonosor... donosor...



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