Que pouco caso! - Ledice de Sá Pereira






Que pouco caso!
Ledice de Sá Pereira


Ir à agência do Banco do Brasil sempre significou para mim um sacrifício.

Dessa vez, eu precisava resolver um assunto e, para isso, tinha que ir lá ao vivo e a cores.

Enchi-me de coragem e fui enfrentar a fila dos velhinhos.
Já repararam que essa fila não anda?

Em primeiro lugar, tive que enfrentar a porta giratória. Tentei uma vez, fui brecada. Recuei.

O segurança, com aquela cara de desconfiança, arreganhando os dentes, perguntou:

A senhora tem celular?

Tirei o celular da bolsa. Coloquei no recipiente que o homenzinho me indicou, dirigindo-me novamente à porta.

Ouvi de novo aquela campainha desagradável que me barrava a entrada.

Dei dois passos para traz, olhando pro dito cujo que continuava com aquela cara de fuinha.

 A senhora tem chaves?

Procurei minhas chaves. Nunca encontro rapidamente nada que procuro, dentro da bolsa. Juro que tento colocar cada coisa num lugar apropriado. Mas quando fico nervosa não acho nada.

Ah, aqui estão as chaves eu disse, tentando sorrir mas com vontade de voar no pescoço do tal sujeito.

Bem, acho que agora vou...

Pi pi pi pi... e a desgraçada da campainha tocou feito doida, impedindo minha passagem.

 O que pode ser agora? Despejei tudo que havia dentro da bolsa para que o simpático” segurança verificasse que eu não estava portando nenhuma pistola dentro da minha minúscula bolsinha a tiracolo, cheia de bolsinhos.

A senhora tem moedas num desses bolsinhos?

Encontrei duas míseras moedas de cinquenta centavos que mostrei a ele, com cara de poucos amigos.

Finalmente, consegui passar pela maldita porta.

A fila dos velhinhos dava voltas. Três caixas atendiam o resto da população.

A nós, da terceira idade, apenas uma moça que parecia estar ali, fazendo grande favor, indo e vindo, calmamente, de lá pra cá e de cá pra lá.

Meus pés começaram a doer. Apenas quatro cadeiras acomodavam a turma de “melhor” idade. À minha frente contei mais cinco idosos sofredores. Eu precisava fazer alguma coisa.

As pessoas reclamavam umas com as outras, mas os atendentes pareciam não estar nem ali.

Não tive dúvidas. Fingi ter um desmaio. Caí feito um saco de batatas.

Correria geral. Eu espiava pelo canto dos olhos.

Levantaram-me, puseram-me sentada numa cadeira em frente ao gerente. Deram-me água. Perguntaram se eu estava melhor.

Queixei-me ao gerente. Que estavam nos fazendo de idiotas. Difícil entrar, difícil ser atendidos.

Eu, que na verdade, tinha que efetuar um simples pagamento, aproveitei para dizer que tinha tido a ideia de fazer a portabilidade do meu VGBL, que estava no Bradesco, com valor aproximado de R$800.000,00, mas em face do descaso, acabara de desistir. Nem deixei o gerente argumentar. Levantei e o deixei falando sozinho.

Saí, batendo o pé, de cabeça erguida e ainda encarei o segurança com cara de poucos amigos. Tinha me vingado!


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