Primeira noite na casa nova - Maria Verônica Azevedo


Imagem relacionada


Primeira noite na casa nova
Maria Verônica Azevedo


        Ela tinha mudado recentemente para aquela rua. A mudança ocorreu com certo estresse. A grande quantidade de objetos delicados colecionados por Doralice deixou o ritmo da arrumação um verdadeiro tormento para os profissionais da empresa de mudança. O vizinho observava da janela. À noite, sentado na varanda, pegou de conversa com Josué, o guarda-noturno, que sempre passava por ali e parava para um dedinho de prosa.

        Conversa vai, conversa vem, o vizinho foi contando detalhes dos movimentos da mudança de Doralice. É claro que o relato era repleto de ironia e alguns exageros.

        Josué andava sempre acompanhado de seu gato, que nem sempre era percebido pela vizinhança, tão preto e discreto ele era, andando em ziguezague entre as pernas do rapaz.

        Vez por outra, se ouvia um miado quando o bichano divisava algum rato. Aí então ele se distanciava de seu companheiro de vigília. E só se acalmava depois de estraçalhar sua presa.

        Naquela noite, o rato que ele viu correu na direção da casa da vizinha.

        Devido ao forte calor, a esnobe senhora deixara a janela da sala aberta.

        Não deu outra... Foi por ali que o rato se meteu.

        Ao gato preto não restou alternativa senão alcançar a janela e pular dentro da sala da mulher.  

        A perseguição durou algum tempo, enquanto se ouvia uma confusão de sons de coisas quebrando e Doralice gritando por socorro.

        Do lado de fora, Josué tocava a campainha com insistência oferecendo socorro.

        Em vão.

        Algum tempo depois a porta da frente foi escancarada. O gato surgiu triunfante com o rato desfalecido entre os dentes.

        E Doralice sentou-se na soleira da porta aos prantos.

        A sala mais parecia um monte de escombros.
       


Nenhum comentário:

Postar um comentário