O MAR - Ana Maria Pinto

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O MAR
Ana Maria Pinto

O mar é lindo, pacificador, dá para sonhar com horizontes longínquos, o outro lado do mundo, mas também tem o seu lado sinistro, aterrorizante e solitário.

Que o digam as dezenas de faroleiros que ficam semanas, meses, anos isolados, sem poder falar com ninguém, entregues somente a si mesmos.

Conheci um faroleiro que, por ironia do destino, nasceu num farol:  o pai era faroleiro, a mulher foi visitá-lo e o parto se realizou no local sem nenhumas condições, mas felizmente todos sobreviveram. 

O menino cresceu sempre tendo o farol como ícone, um misto de medo admiração e angústia.

Como não podia deixar de ser, quando o pai se aposentou, o menino agora já um rapaz, assumiu o cargo.

Os primeiros tempos foram bem alegres, tudo era novo e o desafio o empolgava. Com o passar do tempo a rotina, veio o tédio , a frustração e até um pouco de arrependimento  pela decisão tomada.

Mas apesar de todos esses sentimentos havia um reconhecimento de dever cumprido, algo que ele não  sabia bem explicar. Como tempo era o que ele tinha em maior quantidade, resolveu fazer estudos sobre psicologia, psicanálise e meditação. Na meditação ele encontrou uma forte aliada para encarar a solidão, e a falta de contato físico e mental com outras pessoas, foi superada pelos estudos profundos  e de todos os benefícios que esta traz ao ser humano.

Concluiu que, embora estivesse sozinho estava muito menos só que muita gente que vive rodeada de pessoas que nada têm a ver, e que por vezes são muito incômodas.

E assim a sua vida foi decorrendo, plena, sem incidentes até que chegou ao fim com a sensação de dever cumprido e numa beatitude difícil de enxergar para quem vive no tumulto do dia a dia, da ambição , da competitividade.


Cada um escolhe o seu caminho, não é fácil, mas se for bem escolhido traz um reconhecimento de que viemos a este mundo com algo para fazer.

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