O GLAMOUR E O LIXO - Sérgio Dalla Vecchia


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O GLAMOUR E O LIXO
Sérgio Dalla Vecchia

Rio de Janeiro ano de 1850, início da chamada era Mauá e também a do Império da boa sociedade.

Os investimentos foram abundantes no mercado financeiro e no setor industrial. Havia construções de estradas de ferro, iluminação a gás nas ruas, calçamento com paralelepípedos, implantação de redes de água e esgoto e também o início do transporte público feito por bondes com tração animal.

Por outro lado, a era do Império da boa sociedade fez jus a esse título pela quantidade de festas e bailes de gala que havia. O grande modelo foi a importação da moda e costumes de Paris, da época de Napoleão III, com seu neoclassicismo e aburguesamento dos padrões de costumes.

A rua do Ouvidor representava bem o estilo característico dos bulevares parisienses, lojas chiques, doceiras charmosas, charutarias, perfumarias, chapelaria e tantas outras ofertas para atender ao ávido consumo do glamour.
Filó ocupava uma das mesas de uma famosa doceira na Rua do Ouvidor saboreando uma fatia de um mil folhas, acompanhado de um chá inglês. Entre um gole e outro, ela reparou na presença de um homem elegante, sentado à mesa ao lado.

Giuliano também havia notado a presença dela. Não demorou muito para que os olhares se encontrassem, uma, duas e três vezes, surgindo um sorriso mútuo e logo em seguida uma animada conversa.  

Ele era um imigrante italiano de São Paulo, falava um português muito engraçado, pois abolia os esses das palavras e Filó pelo contrário, forçava-os como os portugueses o faziam. 

Os dois se divertiam com os recíprocos sotaques.

O amor foi crescendo e já falavam em casamento. Chegara a hora de Giuliano pedir a mão de Filó. O dia foi marcado e um belo jantar o esperava.

O galante italiano levou um buquê de rosas vermelhas para a mãe e um outro de rosas brancas para a sua amada.

O jantar foi servido e a conversa era boa, até que o pai perguntou ao Giuliano no que ele trabalhava. Fato que até então era desconhecido por todos.

Tenho dez carroções e transporto lixo urbano. Portanto sou um lixeiro e muito me orgulho, pois tudo o que possuo fui eu que adquiri, e tenho posses.

O espanto foi geral! Como uma moça da aristocracia como Filó poderia se casar com um lixeiro?

Para o desencanto de todos, o pai indignado não atendeu ao pedido.

Giuliano retirou-se abatido e muito humilhado. Não entendia o porquê.

Entretanto, por amar demais Filó, resolveu fazer mais uma tentativa.

Mandou os seus lixeiros não mais recolherem o lixo da casa do futuro sogro.

Após uma semana o mal cheiro e o volume de lixo imenso, o pai desesperado saiu a procura de Giuliano e lhe concedeu a mão da filha em troca da volta da coleta do seu lixo.

O casamento aconteceu e foram felizes, mesmo convivendo com a diferença de sotaques e de classe aristocrática.


Um completou o outro!


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