De Chanel aos panos africanos - Ana Maria Pinto

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e Chanel aos panos africanos
Ana Maria Pinto



Quando Mariana foi fazer entrevista para emprego, na minha casa, estava bem vestida, cabelo com corte Chanel (só mais tarde percebi que era peruca),  afável e muito civilizada.

Foi contratada, fez bom serviço e todos gostavam dela. Entretanto a situação política foi-se alterando,  e Mariana deixou de usar peruca, passou a exibir sua cabeleira com trancinhas e a roupa deixou de ser de " executiva" para usar os panos africanos.

Mas,  como o serviço continuava bom, não era problema essa mudança. Assim nós inocentemente achávamos.

A situação política ia piorando dia a dia, mas nós ainda achávamos que  fosse transitório e em breve as coisas iriam melhorar.

Recebemos visitas, que vieram passar umas férias e que nos avisaram terem ouvido uma conversa da Mariana com alguém do partido, comentando que nos ia matar a todos.

O susto foi grande e a decisão complicada. Despedi-la seria uma temeridade, pois ela conhecia todos os nossos hábitos e seria até muito mais fácil matar-nos,  mas e o medo, o que fazer com ele ?

Entretanto o destino é caprichoso, e as coisas se resolveram de uma forma muito melhor do que qualquer resolução nossa.

Mariana adoeceu e teve que ser internada para fazer uma cirurgia complicada, demos todo o apoio e pedimos que ela não ficasse preocupada com o tempo de internamento, pois para nós não seria problema.

Entretanto saímos do país e o problema ficou resolvido sem mortes de parte a parte. Nunca soubemos o que foi feito dela, mas suspeitamos que tenha casado com alguém importante do partido.

Não há duvida de que quando as coisas não têm que acontecer, elas não acontecem, independentemente da nossa vontade.


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