Desconfiança - Maria Verônica Azevedo



Desconfiança
Maria Verônica Azevedo
       
— Já são oito horas, está tão escuro.

Disse para si mesma enquanto ouvia o trotar dos cavalos chegando para apanhá-la.

Ela desce as escadas apressada segurando as saias para não tropeçar. Precisa ser discreta e sair da casa sem ser notada.

        Lá fora, o cocheiro impaciente a espera.

— Ainda bem que a Marquesa tem sono pesado.

        Alice sai sem ser notada, protegida por uma capa escura com um capuz que impede que possam reconhecê-la.

        Entra rapidamente na carruagem sem uma palavra. O cocheiro já sabe seu destino. Segue por pequenas ruas do centro de São Paulo, na esperança de poder despistar algum possível espião ou mesmo curiosos.

        Depois de dar várias voltas, para na rua lateral da igreja. Abre a porta e diz:

        — Pode descer. O caminho está livre.

        Alice desce devagar e evita a luz dos lampiões.

        Caminhando pela sombra, dobra a esquina e entra na igreja.  No terceiro banco lateral ela vê um vulto sentado de cabeça baixa.

        Logo o reconhece pelo porte altivo.

        Ao se aproximar pela nave quase deserta, o som dos seus passos o faz virar a cabeça.

        Faz um sinal com a mão direita para que ela se sente ao seu lado.

        Em voz baixa, ela começa a relatar os movimentos da Marquesa durante a semana que findava.

        À medida que ela falava, os olhos do velho Tobias se enchiam de lágrimas e suas mãos tremiam.

        Alice não sabia se continuava o relato... Afinal por que ele chorava se ela não tinha nada de tão impressionante para contar? Só fatos comuns do cotidiano de uma velha senhora.

        Com o pequeno saco de moedas nas mãos, ela saiu da igreja pensando:

        - Por que ele insiste em continuar com isso semana após semana?

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