O SEGREDO DE DONA MERCEDES - Carlos Cedano

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O SEGREDO DE DONA MERCEDES
Carlos Cedano

O Padre Salustiano chegou à casa de Dona Mercedes que está gravemente doente e deseja confessar um segredo que a está atormentando. Agora, à beira da morte, sentiu que estava na hora de contar aquilo que sua covardia a tinha impedido de contar!

— O que pode ser tão grave? – perguntou o Padre  – Fale minha senhora que Deus saberá perdoá-la.

Dona Mercedes sentiu-se reconfortada e iniciou seu relato lentamente e ofegante às vezes:

Eu tinha trinta e dois anos quando cheguei pra trabalhar como governanta na família Alva, seu Fernando, Dona Áurea e três filhos: Marcio de dezesseis anos, Beto com doze e Lucrécia com quase onze,  e com a arrumadeira Dulce, uma bela jovem de vinte anos, éramos sete moradores. Visitas de parentes eram raras e a família parecia feliz na sua vida pacata.

Passou o tempo, os três filhos se formaram e a seguir Lucrécia foi contratada por um hospital como Psiquiatra numa outra cidade; Beto “mergulhou” no trabalho obcecado por ficar rico a todo custo por seu próprio esforço e morava na cidade onde trabalhava; Marcio, após de graduar-se em Botânica, continuou morando na casa dos pais, era um rapaz introvertido e pouco falava.

A vida, que transcorria tranquila, foi interrompida por dois eventos que me perturbaram! O primeiro foi a morte do casal num acidente de carro que, segundo a policia, teve como causa o cansaço de seu Fernando que o levou a bater o carro contra um enorme caminhão na contramão. Eu sabia que seu Fernando era um homem prudente, não bebia nem tomava remédios e conhecia bem o caminho; a autopsia não encontrou sinais de nenhum distúrbio físico, mas o acidente me botou “uma pulga atrás da orelha”! Comentei com a  polícia minhas dúvidas, mas  sem resultados.

Pouco depois do acidente Lucrécia desapareceu e jamais tivemos nenhuma noticia. Transcorrido mais de um ano até hoje a polícia não descobriu se ela está viva ou morta! O único fato que lembro é que quando Lucrécia se despediu para a sua cidade, Marcio lhe entregou um pacote cujo conteúdo nunca soube o que era.

Foi quando teve a certeza quem alguém estava tentando eliminar a família, mas agora só ficaram dois: Marcio ou Beto. Qual deles?

A senhora avisou a policia? Perguntou o Padre

— Não! Eles não acreditariam em mim, foi assim na morte do casal e agora não seria diferente, só tinha minha palavra como prova e isso não era suficiente. Estou vivendo apavorada, mas continuo com minha certeza de que o assassino é um deles!

Foi por isso que decidi vigiar com cuidado a vida de Marcio, era o único que eu podia vigiar e é era meu principal suspeito, além disso, ele possuía um laboratório bem aparelhado num amplo depósito colado à casa e onde manipulava, nas suas horas vagas, ervas e outros produtos que nunca vi,  mas cujos cheiros acostumavam invadir a residência.

            — Mas dona Mercedes, são todas conjecturas, né?

Isso era o que eu também achava até que um dia, arrumando as gavetas de seu Fernando encontrei seu diário, a última anotação tinha sido feita quatro dias antes do acidente que matou o casal e onde estava anotado o seguinte: “Segunda Feira, dia de ir ao banco trocar as ações ao portador por ações nominativas”, a anotação estava datada!

No banco o gerente, meu conhecido, me informou que as ações eram ao portador e ainda estavam em custodia no nome de seu Fernando. O valor dessas ações dava uma bela fortuna, era um montante muito alto!

Num fim de semana prolongado apareceu Beto para passar uns bons dias na residência, dizia estar com saudades e cansado de tanto trabalhar nos últimos tempos.

Nesses dias dormi aos sobressaltos e num deles escute ruídos leves e palavras abafadas, me deslizei com muito cuidado e silenciosamente na direção dos sussurros e vi duas pessoas carregando o que parecia ser um corpo numa mortalha dirigindo-se pra fora da casa. Desci, contornei a casa  o que vi naquela noite o que me atormenta até hoje!

Fez-se um longo silêncio e logo o Padre disse:

            — A senhora precisa denunciar os criminosos! Falou em duas pessoas, quem são elas?

— Todo o que disse para o senhor está registrado detalhadamente no envelope grande sobre minha cômoda, entregue-o à policia por favor, é meu depoimento  e também contém provas concretas do terrível assassinato do Beto cujo cadáver foi  enterrado num buraco cavado com antecedência, no piso  do depósito.

— Bom, pelo que a senhora falou dá para saber que um dos assassinos é o Marcio e quem seu cúmplice?


— A arrumadeira Dulce, eles são amantes! E como pretendiam ficar com toda a fortuna precisaram matar quatro pessoas, meu Deus!

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